Os primeiros pontos da reforma da Previdência divulgados pelo governo no final da tarde desta quinta-feira, 14, agradaram aos investidores do mercado de câmbio e o dólar ampliou o ritmo de queda, bateu sucessivas mínimas perto do fechamento e terminou em R$ 3,7198 (-0,89%). As mesas de câmbio passaram o dia focadas na reforma, mas também sem descolar dos eventos no exterior, e teve dois momentos distintos. Em dia de forte volume de negócios, o dólar subiu pela manhã e chegou a superar R$ 3,79 com preocupações de que a crise envolvendo o ministro da Secretaria-Geral da Presidência, Gustavo Bebianno, possa comprometer o avanço da reforma. Pela tarde, a moeda americana começou a cair já na expectativa da reunião entre Jair Bolsonaro e os ministros para discutir a proposta de mudança de regras de aposentadoria e acelerou o ritmo após os anúncios, que fez os investidores desmontarem rapidamente posições mais defensivas.

Do que foi divulgado nesta tarde, o ponto que mais agradou aos investidores na proposta de reforma foi a definição da idade mínima para a aposentadoria de 62 anos para mulheres e 65 anos para homens, após um período de 12 anos de transição, de acordo com o secretário especial de Previdência e Trabalho do Ministério da Economia, Rogério Marinho. Na proposta do governo Michel Temer, o tempo de transição era de 20 anos. O temor era de que a idade na proposta de Bolsonaro fosse menor – de 57 para mulheres e 62 para homens – como chegou a circular no meio da semana, o que acabou pressionando o câmbio, segundo o operador da CM Capital Markets, Thiago Silencio. Para ele, a definição da idade mínima junto com a economia fiscal da reforma eram os dois pontos mais aguardados pelo mercado.

Antes das declarações de Marinho, sem informações novas sobre a Previdência, operadores destacam que investidores evitaram a montagem de apostas claras no dólar e a moeda acabou oscilando entre um intervalo de R$ 3,73 a R$ 3,79. No mercado futuro, um gestor de renda fixa destaca que o temor de que o texto pudesse vir mais desidratado levou os fundos a reduzirem nos últimos dias as posições vendidas em dólar, ou seja, que ganham com a queda da moeda americana. Somente entre quarta e o dia 11, estes investidores reduziram o estoque em quase US$ 1 bilhão, considerando o dólar futuro e cupom cambial. O estoque caiu para US$ 24 bilhões, um dos menores níveis desde dezembro. Já os estrangeiros aumentaram a posição comprada, que ganha com a alta da moeda, em US$ 900 milhões no mesmo período.

Se a reforma da Previdência passar no Congresso, o grupo financeiro holandês ING vê o dólar testando temporariamente níveis de R$ 3,30 a R$ 3,40, abaixo do valor justo da moeda de acordo com os fundamentos brasileiros – R$ 3,60 a R$ 3,70. O banco ressalta que ainda não está claro se Bolsonaro terá apoio no Congresso para aprovar um texto mais ambicioso, mesmo tendo conseguido aliados no comando das duas casas. Assim, as dúvidas sobre a tramitação da reforma devem provocar episódios de volatilidade no mercado pela frente, prevê em relatório o economista do ING em Nova York, Gustavo Rangel.