Por Luana Maria Benedito

SÃO PAULO (Reuters) – O dólar abandonou a indefinição de mais cedo e firmava queda contra o real nesta segunda-feira, em sessão de liquidez reduzida devido a feriado nos Estados Unidos, embora investidores ainda mostrassem alguma cautela diante da tramitação no Congresso de uma Proposta de Emenda à Constituição (PEC) que prevê gastos extraordinários com medidas de auxílio social.

Às 12:04 (de Brasília), o dólar à vista recuava 0,57%, a 5,2910 reais na venda, depois de ter trocado de sinal várias vezes ao longo das primeiras negociações. Na mínima do dia, a moeda norte-americana chegou a cair 0,63%, a 5,2880 reais na venda.

Na B3, às 12:04 (de Brasília), o contrato de dólar futuro de primeiro vencimento caía 0,75%, a 5,3320 reais.

“A gente tem hoje um dia atípico, uma liquidez global muito reduzida por conta do feriado nos Estados Unidos”, disse à Reuters Fernando Bergallo, diretor de operações da FB Capital, notando a fraqueza internacional do dólar nesta manhã como fator de apoio para o real.

O índice da divisa norte-americana contra uma cesta de rivais fortes tinha leve alta de 0,1% por volta de 12h (horário de Brasília), mas o dólar caía acentuadamente contra várias divisas arriscadas pares do real, como peso chileno, rand sul-africano e dólar australiano.

A valorização do real nesta segunda-feira também reflete um ajuste técnico depois de um rali recente do dólar no mercado doméstico, disse Bergallo, embora tenha alertado que qualquer movimento de recuperação da moeda brasileira deve ser limitado por incertezas domésticas.

O presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP-AL), se reúne com líderes nesta segunda-feira para definir o rito de tramitação da PEC dos Auxílios, que foi aprovada com folga na semana passada pelo Senado.

Além de reconhecer um estado de emergência para criar um “voucher caminhoneiro” e de ampliar o Auxílio Brasil e o Auxílio Gás, a PEC –chamada por alguns participantes do mercado de “PEC das bondades” ou “PEC kamikaze”– foi complementada para incluir a concessão de um benefício destinado a taxistas e ainda um crédito suplementar a programa alimentar.

“O resultado é mais uma medida que fragiliza o teto do gasto público e, consequentemente, (gera) aumento do risco fiscal do país. Com o aumento do risco fiscal, a tendência de valorização da taxa de câmbio que começou no início de 2022 se reverteu”, disseram em nota analistas da Genial Investimentos.

O dólar à vista fechou a última sessão, na sexta-feira, em 5,3215 reais na venda, cotação mais alta para um encerramento desde 4 de fevereiro (5,3249 reais). Embora ainda caia 4,5% no acumulado de 2022, a moeda saltou quase 10% no segundo trimestre, e marcou em junho seu melhor desempenho mensal frente ao real desde março de 2020, quando os mercados sentiram o choque inicial da pandemia de Covid-19.

Esse rali recente refletiu, além do noticiário local, temores generalizados sobre possibilidade de recessão nas principais economias.

O nervosismo de investidores sobre a atividade global ganhou força desde que o banco central dos Estados Unidos, o Federal Reserve, endureceu sua postura de política monetária e subiu os juros no ritmo mais acentuado em quase 30 anos no mês passado, em 0,75 ponto percentual.

Taxas de empréstimo mais altas nos EUA tendem a frear os gastos das famílias e das empresas. Além disso, costumam aumentar a atratividade da dívida soberana dos Estados Unidos, o que geralmente eleva a demanda por dólares.

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