SÃO PAULO (Reuters) -O dólar voltou a subir nesta quinta-feira, aproximando-se das máximas de fechamento desde janeiro, ao fim de mais um pregão dominado pelo fortalecimento global da divisa norte-americana e por temores de recessão, o que ditou nova onda de vendas em ativos de risco como moedas emergentes.

O dólar à vista fechou em alta de 0,53%, a 5,4327 reais, devolvendo boa parte da queda de 0,65% da véspera.

A cotação, porém, fechou longe da máxima do dia, quando saltou 1,62%, a 5,4913 reais –pico intradiário desde janeiro. Na mínima, ainda subiu 0,19%, a 5,4144 reais.

+ Com cautela global, Ibovespa renova mínima de encerramento do ano pelo 2º dia

A desaceleração nos ganhos do dólar ocorreu em sintonia com algum afastamento da moeda dos picos em 20 anos contra uma cesta de rivais no exterior.

O arrefecimento veio depois de duas autoridades do banco central norte-americano (o Fed) favorecerem manutenção do ritmo de alta de juro no fim deste mês em 0,75 ponto percentual, em vez de aceleração no aumento para 1 ponto percentual, como sugeriram contratos futuros de taxas de juros.

No fim da tarde, o índice do dólar era cotado em 108,67, após cravar 109,29, novo pico em duas décadas. O euro, que chegou a despencar para 0,9952 dólar, também o menor valor em 20 anos, era negociado a 1,0014.

Embora tenha ainda perdido valor, o real sofreu menos que vários de seus pares. O dólar subiu ante 29 de 33 rivais importantes, com a moeda brasileira no meio da tabela em magnitude de queda.

O peso chileno de longe liderou a debacle com um tombo perto de 4%, mas rand sul-africano (-1,4%), shekel isralense (-1,2%), won sul-coreano (-1,1%) e baht tailandês (também -1,1%) vieram logo em seguida e com desempenhos bem piores que o real. As moedas da Coreia do Sul, Tailândia e de Israel tradicionalmente carregam volatilidades implícitas bem menores que a da brasileira.

Analistas do Bank of America falam em um tipo de “resiliência” do real, explicada em parte pelo “atrativo” retorno de taxa de juros, e disseram que um aumento de 0,50 ponto percentual da Selic na próxima reunião do Copom, em agosto, é favorável à taxa de câmbio.

O retorno para dois meses do carrego em reais contra o dólar estava em torno de 12,2% ao ano, contra 9,1% do peso mexicano e 8,7% do peso chileno.

“Com um ‘carry’ tão alto, acreditamos que o real tem espaço para continuar superando o restante de seus pares emergentes”, disseram estrategistas do BofA em nota.

Apesar da depreciação recente, a moeda brasileira ainda acumula ganho nominal de 2,59% frente ao dólar neste ano. É o segundo melhor desempenho global –atrás apenas do rublo russo, que sob controles de capital valoriza cerca de 28%.

Junto com o sol peruano (+2%), esse trio é o único que vence o dólar em 2022, enquanto os demais 30 pares recuam. O peso mexicano, por exemplo, perde 1,5% no período, enquanto o rand sul-africano devolve quase 7% e o peso chileno desaba perto de 19%.