SÃO PAULO (Reuters) – O mal-estar em relação ao adiamento para abril da apresentação do novo arcabouço fiscal, anunciado pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, trouxe certa pressão de alta para o dólar ante o real, mas ainda assim a moeda norte-americana fechou a terça-feira perto da estabilidade, com investidores à espera das decisões de política monetária no Brasil e nos Estados Unidos.

No meio da manhã, Lula afirmou, durante entrevista à TV 247, que o anúncio do novo arcabouço fiscal ficará para depois de sua viagem à China. Ele estará no país asiático entre 26 e 31 de março. Na prática, o arcabouço ficou para abril.

Como havia a expectativa de que o arcabouço fosse apresentado antes da viagem, o mercado reagiu negativamente. O dólar à vista chegou a oscilar na faixa dos 5,25 reais, mas logo voltou para perto da estabilidade, com os participantes do mercado mantendo posições de olho na quarta-feira, quando o Banco Central e o Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano) decidem o nível de seus juros básicos.

O dólar à vista fechou o dia cotado a 5,2456 reais na venda, em leve alta de 0,05%.

Na B3, às 17:10 (de Brasília), o contrato de dólar futuro de primeiro vencimento subia 0,10%, a 5,2580 reais.

Outro fator mal recebido pelos mercados pela manhã foram as falas de Lula contra o presidente do BC, Roberto Campos Neto. Na entrevista, Lula afirmou que manter a Selic (a taxa básica da economia) em 13,75% ao ano é uma “irresponsabilidade”. Além disso, disse que Campos Neto não se importa com a questão do emprego.

Apesar das falas de Lula, o dólar pouco se afastou no nível de estabilidade.

“O mercado fica no compasso de espera. A tendência até quarta-feira é mesmo o mercado ficar mais engessado”, afirmou Mário Battistel, gerente de câmbio da Fair Corretora.

Um operador afirmou à Reuters que, antes da entrevista de Lula, havia maior volume de negócios com a moeda norte-americana. Com a informação de que o arcabouço seria adiado, as negociações diminuíram, em mais um sinal de que os investidores decidiram esperar pela quarta-feira.

No exterior, o ambiente mais favorável, após governos e instituições atuarem para evitar o espalhamento da crise bancária, fazia o dólar ceder ante uma cesta de moedas, ao mesmo tempo em que as bolsas de ações avançavam.

Às 17:10 (de Brasília), o índice do dólar –que mede o desempenho da moeda norte-americana frente a uma cesta de seis divisas– caía 0,12%, a 103,220.

Pela manhã, o BC venceu 6.600 dos 16.000 contratos de swap cambial tradicional ofertados na rolagem dos vencimentos de maio.

(Fabrício de Castro)

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