Nascido em Las Compuertas, na região de Mendoza, Argentina, o Cheval des Andes é um raríssimo caso de dupla cidania em que a genética combinou o melhor de dois mundos: o velho e o novo. Parte de seu DNA veio da França, do mítico Château Cheval Blanc, Premier Grand Cru Classé A de Saint Emilion. A essa nobre linhagem genética somou-se o pioneirismo na vinificação de alta altitude na Argentina, técnica desabravada pela vinícola Terrazas de los Andes junto à cordilheira que lhe dá nome. Nutrido desde o berço com as melhores expectativas, esse jovem cavalo andino acaba de cumprir seu destino glorioso. A safra 2017 recebeu 100 pontos do crítico James Suckling.

Tudo começou em 1999, quando o enólogo francês Pierre Lurton, gerente geral do Château Cheval Blanc, foi convidado por Bernard Arnault, controlador do grupo LVMH, para escolher na Argentina um terroir à altura da uma joint-venture à qual o Château emprestaria seu prestigioso nome. Lurton selecionou vinhedos da uva malbec plantados em 1929, a uma altitude de 1070 metros. Como a ideia sempre foi produzir um blend, combinando castas distintas, o projeto incorporou um segundo terroir, em La Consulta, no Vale do Uco, e depois um terceiro, em Altamira.

“densidade na boca” Essa é a marca da safra 2017, segundo o diretor técnico do Cheval des Andes, Gérald Gabillet (acima). Na página oposta, vinhedo de 1929. (Crédito:Divulgação)

As primeiras garrafas chegaram ao mercado em 2003. De lá para cá, o que a história mostrou foi uma coleção de vinhos elegantes, equilibrados e intensos, elaborados em um estilo diferente de todos os outros vinhos argentinos. Nenhuma safra, contudo, foi tão bem recebida pela crítica quanto a de 2017, que acaba de chegar ao Brasil. Com 62% malbec e 38% cabernet sauvignon, ela mereceu, além dos já citados 100 de James Suckling, 98 de Tim Atkin. Para o primeiro, “a integração de fruta, taninos e acidez é fantástica”. O segundo afirmou ser a melhor safra de Cheval des Andes jovem que já provou, reconhecendo os méritos do enólogo Gérald Gabillet.

Nascido em Bordeaux. o atual diretor técnico do Cheval des Andes passou por grandes chateaux (caso de Destieux e Angelus, ambos de Saint Emillion) antes de se mudar para a Argentina. Para ele, a qualidade começa nas videiras. “A seleção dos cachos é muito importante. Não podemos fazer um vinho icônico sem ter as melhores uvas”, afirmou, em uma degustação virtual na quarta-feira (25). O que há de especial na safra 2017? “A densidade na boca”, disse. “Tivemos ótimas condições climáticas e o vinho está no topo do que a indústria pode oferecer.” Ele chega ao Brasil pela LVMH ao preço de R$ 895. O Cheval Blanc 2010, que obteve 100 pontos de Robert Parker, custa R$ 22.258 na Grand Cru.

O MELHOR DO URUGUAI Bem mais jovem, outro ícone do cone sul nasceu em 2015. Longe da Cordilheira e a apenas 18km do Oceano Atlântico. Batizado Balasto, é o rótulo premium da Bodega Garzón, propriedade uruguaia do bilionário argentino Alejandro Bulgheroni. Em tem cumprido a promessa de ser o melhor tinto de seu país. O vinho da safra 2018, com uma produção de apenas 18.888 garrafas, traz um corte das uvas tannat (40%), cabernet franc (34%), petir verdot (18%), merlot (5%) e marselan (3%). Fermentado em tulipas de cimento, permaneceu por 20 meses em barricas de carvalho francês, sem tosta. Ainda jovem, embora já capaz de entregar toda sua expressão, ele recebeu 96 pontos de James Suckling. Em safras anteriores, foi eleito melhor blend tinto pelo Guia Descorchados.

O nome Balasto homenageia o solo predominante nas colinas da Bodega Garzón. Seu rótulo reproduz as diferentes camadas de pedras de origem granítica que proporcionam uma perfeita drenagem durante o ciclo da videria. O lançamento é feito na Place de Bordeaux, na França, espaço reservado aos grandes vinhos do mundo. Para o enólogo Germán Bruzzone, que trabalha sob a consultoria de Alberto Antonini, o Balasto “é como uma bailarina: elegante, mas com músculos”. Importado com exclusividade pela World Wine, ele chega ao Brasil ao preço de R$ 980. A safra 2015, lançada em Bordeaux a 49 euros, hoje custa US$ 1 mil na Bodega Garzón. E os brasileiros são os que mais compram.