A hidroxicloroquina não parece ser eficaz em pacientes graves de COVID-19 e mesmo nos quadros leves, de acordo com dois estudos que serão publicados nesta sexta-feira (15).

O primeiro deles, de pesquisadores franceses, conclui que o derivado da cloroquina, útil no tratamento da malária, não reduz significativamente a probabilidade de um infectado precisar de tratamento intensivo ou de óbito em pacientes hospitalizados com a pneumonia decorrente da infecção.

Para o segundo estudo, de uma equipe chinesa, a hidroxicloroquina não elimina o vírus mais rapidamente do que os tratamentos padrões em pacientes com uma forma “leve” ou “moderada” da doença. Além disso, os efeitos colaterais são mais importantes.

“Tomados em conjunto, esses resultados não apoiam o uso da hidroxicloroquina como tratamento de rotina para pacientes com COVID-19”, afirmou em um comunicado a revista médica britânica BMJ, que publica os dois estudos.

O primeiro foi baseado em 181 pacientes adultos hospitalizados com pneumonia causada pela COVID-19, que forçou a administração de oxigênio. Um total de 84 recebeu hidroxicloroquina diariamente menos de dois dias após a hospitalização, diferentemente dos outros 97.

Não houve qualquer alteração com o tratamento, seja na transferência para a reanimação (76% dos pacientes tratados com hidroxicloroquina estavam em reanimação após 21 dias, em comparação com 75% no outro grupo) ou na mortalidade (a taxa de sobrevivência no dia 21 foi de 89% e 91%, respectivamente).

“A hidroxicloroquina chamou a atenção mundial como potencial tratamento para a COVID-19 devido a resultados positivos de pequenos estudos. No entanto, os participantes deste estudo não apoiam seu uso em pacientes hospitalizados com COVID-19 que precisam de oxigênio”, concluem os pesquisadores de vários hospitais na região de Paris.

O segundo estudo foi baseado em 150 adultos hospitalizados na China com formas principalmente “leves” ou “moderadas” de COVID-19. Metade recebeu hidroxicloroquina, a outra não.

Nesse caso, o fato de receber ou não esse tratamento não mudou nada na maneira como os pacientes superam o coronavírus após quatro semanas. Além disso, 30% das pessoas que receberam hidroxicloroquina sofreram efeitos colaterais (geralmente diarreia) em comparação com 9% nos pacientes que não a tomaram.

A hidroxicloroquina é usada no tratamento de doenças autoimunes, como lúpus e artrite reumatoide, e tem fortes apoiadores.

O controverso cientista francês Didier Raoult defende o uso deste medicamento em pacientes no início da doença, juntamente com o antibiótico azitromicina.

O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, também defendeu seu uso contra o novo coronavírus. Mas nas últimas semanas, vários estudos questionaram sua eficácia no tratamento da COVID-19 e as autoridades de saúde de vários países alertaram para o risco de efeitos colaterais, especialmente cardíacos.