Um é de origem paquistanesa, e o outro, jamaicana, mas os dois principais candidatos a prefeito de Londres nas eleições de quinta-feira (6) continuam sendo exceções no cenário eleitoral de um Reino Unido em plena introspecção sobre o racismo.

Segundo as pesquisas, o candidato trabalhista à sucessão, Sadiq Khan, 50, deve se impor a seu oponente conservador, Shaun Bailey, que, como Khan, cresceu em uma família modesta nesta capital de nove milhões de habitantes.

Adiadas por um ano devido à pandemia, as eleições locais também permitirão que 48 milhões de eleitores na Inglaterra renovem cerca de 5.000 cadeiras em 143 assembleias municipais e que os escoceses elejam um novo parlamento regional – uma votação crucial em um contexto de aspiração à independência.

Atribuído ao caráter cosmopolita de Londres, onde apenas 45% dos habitantes se declaram “brancos britânicos” de acordo com o censo de 2011, esse confronto continua sendo excepcional em uma eleição, na qual a maioria dos candidatos importantes é branca.

E isso se dá depois de o movimento “Black Lives Matter” ter reacendido o debate sobre racismo e colonialismo em um país onde a política continua sendo o privilégio de uma elite formada nas universidades de Cambridge e Oxford.

“Em 2016, a cidade me elegeu como seu prefeito, mostrando o quão progressista é”, disse à AFP Sadiq Khan, filho de um motorista de ônibus paquistanês, que se tornou o primeiro prefeito muçulmano de uma grande capital ocidental. Ele sucedeu ao agora primeiro-ministro, Boris Johnson.

Shaun Bailey sonha em se tornar “o primeiro prefeito negro de Londres”, um cargo de grande visibilidade nacional, “e o primeiro político negro desta estatura na Europa”.

– Polêmicas –

Em 2016, Khan venceu o rico conservador Zac Goldsmith, puro produto da elite, cuja campanha com cores islamofóbicas não convenceu.

“Não é surpreendente que os conservadores tenham decidido eleger um candidato de uma minoria étnica” para se apresentar como um “partido liberal e inclusivo”, disse Steven Fielding, cientista político da Universidade de Nottingham.

Bailey não está, porém, livre de polêmica e tem sido criticado por comentários que fez há alguns anos questionando certos aspectos do multiculturalismo, além de ser considerado retrógrado em relação às mulheres.

Mas, para além da origem dos candidatos e das divisões partidárias, sua “personalidade” também desempenha um papel, diz o cientista político Simon Usherwood, da Universidade de Surrey.

Bailey concorda: “Tenho uma experiência única, graças às minhas origens, mas não é a única coisa com que posso contribuir”.

Este ex-assistente social criado pela mãe, que foi conselheira especial do ex-primeiro-ministro David Cameron, quer dar a Londres “um novo começo”, com mais empregos e moradia e maior segurança contra os ataques com arma branca. Khan é criticado de não tê-los contido.

Para os especialistas, a situação de Londres mostra os avanços alcançados nos últimos anos em matéria de diversidade na política, embora ainda haja muito a melhorar.

Vários ministros conservadores pertencem a minorias étnicas, incluindo pastas importantes como Interior e Finanças.

Para Dibyesh Anand, sociólogo da Universidade de Westminster, trata-se, no entanto, de um progresso “superficial”, porque o discurso político permanece essencialmente voltado para o Reino Unido branco, com uma postura muito direitista e nacionalista por parte do governo.