Milhares de anos atrás, os homens faziam inscrições em pedras e nas paredes de cavernas sobre seus hábitos e costumes. Algumas marcações eram características de civilizações específicas. Seriam os primeiros registros de assinaturas. Depois vieram outras formas de comunicação e reconhecimento, como os glifos. Evoluiu-se para marcações, símbolos e desenhos em madeira. Veio o alfabeto emplacado em pergaminho com uso de pena. Chegamos ao papel e caneta. E já não precisamos mais deles. Assim como os autógrafos de artistas e atletas famosos foram substituídos pelas selfies com os fãs, as assinaturas em documentos para identificar pessoas e empresas passam por um processo de digitalização e agora são eletrônicas. Uma solução tecnológica que vinha ganhando espaço no mundo corporativo e foi impulsionada com a pandemia, pois os deslocamentos e contatos pessoais foram diminuídos drasticamente para evitar a proliferação do coronavírus. Pioneira no desenvolvimento da tecnologia de assinatura eletrônica, a americana DocuSign cresce exponencialmente, principalmente no Brasil, onde o mercado a ser explorado é mais amplo, pois muitas empresas ainda não utilizam a solução. “Nossa premissa é a de que as pessoas possam assinar um documento de qualquer lugar, a qualquer hora, de qualquer dispositivo”, afirmou à DINHEIRO Gustavo Brant, country manager da companhia no Brasil.

Dessa forma, a DocuSign tem assinado sua marca e penetrado no mercado. No ano fiscal de 2018, a empresa faturou US$ 484,6 milhões. Apenas no primeiro trimestre deste ano, a receita foi de US$ 297 milhões, o que representa 61% do total de três anos antes. Um aumento de 39% em relação aos três primeiros meses do período anterior. No Brasil, esse crescimento “foi bem mais forte”, segundo Brant, que no pós-pandemia vai comandar a equipe em escritório novo, na região nobre nas proximidades da Marginal Pinheiros, em São Paulo. Os resultados do segundo trimestre serão apresentados no início de setembro. Segundo fontes do setor, o avanço será superior ao do primeiro trimestre, já que a companhia projeta angariar US$ 1,317 bilhão para este ano.

Globalmente, a DocuSign possui 660 mil clientes, que realizam 1,2 milhão de transações por dia dentro da plataforma, sendo 83% delas efetuadas em menos de 24 horas e 50% em 15 minutos. Todas passam por certificações e elementos comprobatórios, como avaliação de IP e token – é possível lacrar os arquivos com criptografia e carimbar data e hora, tudo digitalmente. Os planos padronizados custam de US$ 10 por mês para usuário único (Pessoal) a US$ 40 mensais, para corporações com até cinco usuários (Business Pro).

A expansão é baseada em três pilares que geram redução de custos e maior agilidade nos processos dos clientes. O primeiro é mais direto, na diminuição de gastos com papel e impressão, transporte e armazenamento de documentos e tempo desperdiçado em pesquisas de arquivos físicos. O segundo atinge custos indiretos, com economia na força de trabalho dos backoffices. O terceiro envolve os negócios, que são fechados de maneira mais rápida e eficiente. “São soluções que promovem a verdadeira transformação digital das empresas em todas as pontas dos processos”, disse Gustavo Brant.

Dentre as 24 seguradoras que contrataram os serviços do Docusign no Brasil, uma das principais é a Caixa Seguradora. A estatal reduziu de oito para um dia o prazo para emissão de novos contratos de seguros de vida. A análise das propostas e o processo de contratação ficaram mais simples. Antes de implementar a ferramenta eletrônica, as equipes das agências tinham que recolher as assinaturas dos clientes e enviar os documentos assinados por malote. Nesse processo, além da demora de mais de uma semana, os extravios eram comuns. Desistências pela complicação da burocracia chegavam a 5%. Com a mudança, a Caixa evitou perdas de R$ 30 milhões por ano.

Outro grande cliente da DocuSign no Brasil é a CVC, que atua no mercado de turismo. Antes de adotar a assinatura eletrônica, era praxe da empresa imprimir duas vias de um único contrato, totalizando 14 páginas para cada cliente. Hoje, os contratos podem ser assinados via e-mail, com apenas um clique ou um toque de dedo na tela do celular. A CVC estima que são economizadas 56 milhões de folhas de papel por ano, contando as 1.200 lojas espalhadas pelo País.

As instituições financeiras também têm sido atraídas pela assinatura eletrônica. O Banco Inter reduziu de 14 para 8 dias o processo de contratação de crédito consignado. A iniciativa ainda fez com que a instituição diminuísse de 18% para 8% a taxa de desistência de clientes para a contratação deste tipo de produto. A solução também é usada no dia a dia de pessoas comuns, como assinatura eletrônica em boletins escolares.

INVESTIMENTOS Além de serviços de assinatura eletrônica, gestão do ciclo de vida de contratos e geração de documentos, a DocuSign investe US$ 300 milhões ao ano, em média, em pesquisa e desenvolvimento. Em 2014, comprou a Comprova, empresa brasileira que fornece serviços no mesmo setor ao mercado nacional. Em 2018, a empresa passou a ter capital aberto na Bolsa de Nova York – na última terça-feira 18, a ação valia US$ 209,09. Em maio deste ano, anunciou a aquisição da Seal por US$ 188 milhões, para avançar em análise de contratos por meio de Inteligência Artificial. Em julho, ainda durante a pandemia, foi oficializada a compra da Liveoak por US$ 38 milhões, para reforçar seu portfólio de produtos com vídeochamadas. Inovações que vão deixando a assinatura tradicional, com caneta no papel, como algo da pré-história.