Aos 14 anos, Antonio Setin era ajudante de marceneiro. Fazia mesas e cadeiras. Aos 22, formou-se em Arquitetura. Fazia sobradinhos em bairros populares de São Paulo. Hoje, aos 45, faz flats e hotéis. O paranaense Antonio Setin ergueu, ao longo dos anos, uma sólida carreira na construção civil. Passou das casas simples aos empreendimentos de alto padrão até se especializar em hotéis. Atualmente é tido como um dos grandes nomes do setor no País. Discreto, o empresário não revela o tamanho do patrimônio nem sob tortura. Dá apenas uma pista: investiu cerca de R$ 60 milhões nos dois hotéis e no flat que possui na capital paulista. No alto dos empreendimentos de Setin, tremulam as bandeiras Ibis e Mercure. Não é pouca coisa. São duas das mais conhecidas grifes do grupo francês Accor, uma das maiores cadeias de hotéis do mundo.

Setin agora se prepara para erguer oito empreendimentos das bandeiras do Accor nas cidades de Santo André, Campinas, São José dos Campos e Barueri, no bairro de Alphaville. As obras começam no início de 2001. Já acertou com o grupo francês uma sociedade de 50% para a construção de outras duas unidades. ?Aprendi muito com a parceira. Os franceses são profissionais muito pragmáticos, são máquinas que querem produzir resultados?, elogia o empresário, que emprega cerca de 1.000 pessoas. Escravo confesso do trabalho, ele só tem uma reclamação da vida: ?O dia deveria ter 48 horas?. Antônio Setin faz parte daquela categoria de empresários que os americanos costumam chamar de self-made man. Não teve herança ? seus pais eram modestos agricultores ? nem padrinhos banqueiros. Construiu sua carreira com uma boa dose de persistência e, por que não dizer, com uma mãozinha do acaso (passou a fazer flats, por exemplo, depois de sair de um casamento e experimentar a ?residência oficial? de nove entre dez descasados).

Sua história no mundo das colunas, cimento e tijolos começou em 1979. Depois de negociar com um amigo dono de uma imobiliária, barganhou a compra de um terreno no bairro paulistano de Casa Verde. O plano era construir sete sobradinhos. Bom negociador, ergueu os dois primeiros e conseguiu vendê-los por um valor suficiente para financiar as outras cinco edificações. E foi fazendo sobradinhos e pequenas construções nos bairros mais simples da Zona Norte de São Paulo que Antônio Setin cresceu como empreendedor. A época era de ?vacas gordas? para o setor de construção civil, que chegava a ter margens de lucro de mais de 50%.

Mico. A alegria terminou na década seguinte, quando as linhas de financiamento para a classe média ganharam juros proibitivos, afugentando os compradores. Setin decidiu mudar o foco do negócio. ?Comprei um terreno em Moema e, mesmo sem know-how como incorporador, construí um edifício de alto padrão.? A nova rota parecia segura até que surgiu o confisco do plano Collor. O empresário viu-se obrigado a dar nova virada. Construiu um flat na zonal sul de São Paulo, entrando no setor hoteleiro. Em seguida, transformou um mico em seu maior hotel. Era proprietário de um grande terreno próximo ao parque do Ibirapuera, em São Paulo, com uma réplica de caravela, onde por anos funcionaram boates e bares. Na cidade, o ?navio? era considerado um mico, o que incomodava o empresário. Um dia um amigo fez a sugestão: que tal um hotel? Setin encomendou uma pesquisa de mercado e ficou surpreso com a vocação do local, justamente para hotelaria. Depois de procurar executivos do setor, acabou conhecendo o francês Roland de Bonadona, diretor do Grupo Accor no Brasil. Quinze dias depois, assinou o contrato para construir e ser o dono do primeiro hotel Mercure, a bandeira Accor de 4 estrelas no País. Segundo Setin, para um hotel como aquele, esperava-se uma taxa de ocupação de 15% no primeiro mês de funcionamento. Aconteceu o que ninguém esperava. Houve uma invasão de hóspedes, que ocuparam 50% dos apartamentos (280, ao todo). Em seguida veio o Ibis na Marginal do Tietê, inaugurado em junho do ano passado. Nada mau para o ajudante de marceneiro.