Durante muito tempo, as ilhas britânicas Orkney e as vizinhas Shetland basearam sua prosperidade nos hidrocarbonetos do Mar do Norte. Diante da emergência climática, porém, estes arquipélagos castigados pelo vento e pelas ondas tentam se voltar para as energias renováveis.

“Aqui, temos o Mar do Norte, ali, o Atlântico, e a cada seis horas é uma batalha, e 500 milhões de toneladas de água passam a cada hora, ideal para testar as turbinas”, disse à AFP Daniel Wise, diretor de uma pequena empresa de tecnologia, a Orbital.

Na costa das Ilhas Orkney, no extremo norte do Reino Unido, a Orbital faz experiências com seu gerador de energia maremotriz O2, o mais potente do mundo. Uma hélice submersa movida pela corrente é capaz de produzir eletricidade para 2.000 casas.

Nessas ilhas, cujos vestígios neolíticos falam de um passado milenar, o horizonte é pontilhado de turbinas eólicas e abundam os projetos de energia renovável.

“Dado o enorme potencial energético que temos, as Ilhas Orkney são um lugar espetacular para testar novas tecnologias. Temos muitos centros de pesquisa e empresas que colaboram no desenvolvimento de uma economia verde”, explica Jerry Gibson, técnico do centro europeu de energia marinha EMEC.

O EMEC produz, por exemplo, hidrogênio “verde” – procedente de fontes renováveis -, graças a uma turbina maremotriz e a uma eletrólise feita da água do mar de Eday, uma das 20 ilhas habitadas das Orkney. Este arquipélago conta com mais de 22.000 habitantes, uma população semelhante à das ilhas vizinhas Shetland.

O hidrogênio é pressurizado e transportado até o porto de Kirkwall, principal localidade do arquipélago. Lá, é transformado na eletricidade que alimenta as balsas no cais: um pequeno passo para a descarbonização da altamente poluente indústria naval.

– Confiabilidade –

O hidrogênio “é importante, porque é outra forma de armazenar energia, além das baterias, ou de ir diretamente para a rede elétrica”, afirmou Jerry Gibson, já que as Orkney produzem mais energia do que consome.

O EMEC também testa em laboratório geradores de energia a partir de ondas, cuja modelização é mais complexa do que a das marés.

Cerca de 200 km mais ao norte, na ilha de Yell, nas Shetlands, outra “startup” aposta na energia maremotriz, mas com um modelo de turbina menor e mais perto da costa.

“O bom da energia maremotriz é que é totalmente previsível (…) E não depende da meteorologia”, diferentemente da solar e da eólica, explica Tom Wills, um dos responsáveis pela Nova Innovation.

Esta confiabilidade é crucial para a estabilidade do fornecimento de energia quando se caminha para o fim do uso de hidrocarbonetos.

Em um píer, a Nova Innovation instalou uma estação de recarga para veículos elétricos alimentada por suas turbinas submarinas.

– Pior do que o petróleo? –

As energias renováveis trazem consigo a esperança de uma solução, mas não são isentas de conflitos, como mostra o gigantesco parque eólico de Viking, uma colaboração entre o grupo SSE Renewables e as autoridades das Shetland.

Está previsto para entrar em operação em 2023 e contará com mais de 100 aerogeradores que produzirão suficiente energia com baixa emissão de carbono para abastecer 476.000 residências. Muitos moradores criticam, no entanto, o tamanho do projeto.

“É tão grande para o tamanho das Shetlands que é ridículo”, diz Donnie Morrison, cuja casa, atualmente em uma colina bucólica, logo será cercada por barulhentas turbinas. Um incômodo para o qual ainda não há compensação.

A guia turística Laurie Goodlad acrescenta que o projeto está sendo construído “em um frágil e delicado ecossistema” de turfa, um sumidouro de carbono. Para ela, a Viking é ainda mais destrutiva para o meio ambiente do que a perfuração de polêmicas novas jazidas de petróleo, como a de Cambo, em frente ao arquipélago.

Os moradores também temem que a eletricidade gerada, que será exportada, não os beneficie, embora as autoridades das Shetland garantam que a comunidade receberá dividendos com a energia produzida, como acontece com o petróleo.

E os sindicatos reclamam da falta de perspectivas de emprego, alegando que os milhares de postos de trabalho bem remunerados no setor de petróleo provavelmente não serão substituídos pelas energias renováveis.

“Não precisa de muita gente para administrar um parque eólico depois de construído”, diz Richard Hardy, do Prospect UK.

De qualquer modo, a extração de petróleo continuará durante anos, como evidenciado pelos campos em desenvolvimento, como o de Cambo.

Em meio à crise do gás, o governo britânico afirma que o acesso à produção nacional de hidrocarbonetos é uma questão de segurança energética.