Em meio a temores de um colapso da economia provocado pelas ações de controle à pandemia da Covid-19, o agronegócio nacional se mantém como um oásis de prosperidade. Em 2020, sua participação no PIB alcançou 26,6%, contra 20,5% do ano anterior. Para 2021, a Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) estima novo avanço de 2,5% no total da produção de riquezas do País. O desempenho será sustentado por uma safra recorde de grãos, estimada em 268,3 milhões de toneladas. Tamanha pujança tem levado investidores a buscar empresas que unem gestão e tecnologia por meio de soluções disruptivas e escaláveis para o campo. É o caso da Grão Direto, que captou R$ 13,5 milhões para expandir sua plataforma on-line, criada para agilizar o processo de comercialização de grãos como soja e milho.

“Notamos que os produtores tinham smartphone no bolso, mas para fazer negócio usavam apenas o ‘fone’. A parte ‘smart’ era deixada de lado” – Alexandre Borges, CEO da Grão Direto

A captação foi liderada pela Lanx Capital e teve participação da Bayer, da Barn Investimentos, do Grupo Rendimento e de pessoas físicas. Até agora, foi o maior aporte para o setor na América Latina. E mostra o potencial do mercado das startups do agro — as agtechs — no País. Em 2018, foram 28 rodadas com valor total de US$ 20 milhões. No ano passado, a quantidade de operações foi a mesma, 28 transações, mas o valor investido somou US$ 190 milhões. Para Felipe Matos, presidente da Associação Brasileira de Startups (Abstartups), o interesse do capital é resultado da visão de um futuro promissor. “As agtechs protagonizam o movimento das soluções digitais que já eram necessárias e foram reforçadas pela pandemia”, disse.

Foi justamente na emergência da digitalização do campo que Alexandre Borges, CEO da Grão Direto, e seus sócios, Fred Marques e Pedro Paiva, enxergaram terreno fértil para expandir a empresa fundada em 2016. “Notamos que os produtores tinham o smartphone no bolso, mas para fazer negócio usavam apenas o ‘fone’. A parte ‘smart’ era deixada de lado”, afirmou Borges. Inicialmente, a tecnologia apenas conectava compradores e vendedores. Um ano depois, com a viabilidade do produto já testada, começaram a estruturar a rodada de investimentos semente. Em 2018, captaram cerca de R$ 2,3 milhões junto à Monsanto Growth Ventures (MGV), Canary e o OpenVC.

FREEMIUM O recurso serviu para aprimorar a ferramenta, que hoje está mais robusta.Possui conteúdos sobre mercado, atualização de preços e contratos digitais. Agora, o foco é crescer. A plataforma planeja passar dos 70 mil usuários atuais, concentrados em Minas Gerais, São Paulo e Goiás, para meio milhão de clientes em 10 estados. Para atrair clientes, aposta na estratégia conhecida como freemium no mundo das startups “A negociação é gratuita, mas o usuário pode comprar diversos serviços adicionais”, afirmou Borges. O único custo é com a taxa de transação, paga pelos compradores por volume negociado. Com a conjuntura atual, que alia demanda aquecida, câmbio favorável e o preço elevado dos grãos,
a digitalização do agronegócio tem um
futuro promissor.