Aumento da rentabilidade, redução das dívidas e diversificação do portfólio de produtos. Nos últimos dois anos, esse tem sido um mantra para o CEO da JBS, Gilberto Tomazoni. À frente da maior empresa de carnes do mundo – a vice-líder global no setor de alimentos, atrás apenas da suíça Nestlé –, o executivo parece estar cumprindo à risca a cartilha de expansão global. O mais recente passo foi divulgando na noite da quarta-feira 6. Sem relevar as cifras do contrato, a companhia anunciou a compra do Frigorífico Marba, conhecido pela produção de frios e embutidos. A aquisição ainda depende da aprovação do Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade). A aquisição foi feita por meio da marca Seara, comprada da Marfrig pela JBS, em 2013, por R$ 5,8 bilhões. “Essa nova aquisição está em linha com a estratégia da companhia de ampliar a participação de produtos de maior valor agregado em seu portfólio”, disse a JBS, em comunicado, destacando que a receita anual da Marba é de cerca de R$ 350 milhões.

A Marba foi fundada em 1961, no bairro do Ipiranga, na capital paulista. A marca é uma junção dos nomes dos fundadores: Mário e Basílio. No final da década de 1970, a empresa transferiu sua produção para o bairro da Pauliceia, em São Bernardo do Campo, na região do ABC Paulista. A companhia opera outra fábrica em Taquaritinga, no interior paulista, que foi inaugurada em 2009 e que produz jerked beef. Seu produto mais conhecido é a mortadela, mas a marca é famosa também por embutidos, como presunto e peito de peru, além de linguiças e bacon. “A Marba vai fortalecer as operações da Seara, principalmente no mercado paulista, onde muitos bares e restaurantes possuem contrato de exclusividade com a mortadela Marba”, afirma o economista Fernando Torres Filho, especialista em varejo de alimentos. “É uma empresa de marca forte e estrutura operacional muito bem organizada.”

A Marba será uma peça-chave na estratégia da JBS. Em recente encontro com a DINHEIRO e jornalistas internacionais, no JBS Day, na bolsa de Nova York, Tomazoni afirmou que o objetivo é consolidar a companhia como uma gigante global de alimentos, com marcas mais conhecidas e rentáveis. “O processo de transformação da empresa segue o plano de investir em inovação, montar o melhor time possível, buscar excelência em todos os processos de produção e ter a obsessão de sermos, o tempo todo, os melhores nos mercados em que atuamos”, afirmou Tomazoni.

Além de suprir a crescente demanda global por proteína e alimentos, a JBS está focada em agregar valor às suas marcas. No Brasil, esse processo já está em curso com a Seara, líder em aves e suínos. “Não adianta tentar concorrer com produtos da base do mercado, acreditando que é possível manter a rentabilidade assim. Baixar preço é fácil, mas isso não traz resultados no longo prazo”, disse Tomazoni, durante o encontro. “O mercado está favorável, temos um time experiente e estamos no melhor momento da nossa história. Nosso objetivo é expandir em margem e faturamento, com foco na excelência operacional, inovação e com crescimento orgânico e inorgânico”, acrescentou.

PLANO PREMIUM A estratégia da JBS tem sido investir na gourmetização de suas marcas, como Seara e Swift (Crédito:Lauri Patterson)

Em paralelo à estratégia de avançar no setor de embutidos, o plano de gourmetizar suas marcas inclui fortalecer os negócios com carnes pouco consumidas pelos brasileiros, especialmente de animais da raça angus, que hoje representa menos de 2% das vendas totais do mercado nacional. A ideia é ampliar a presença de etiquetas como a 1953 (ano de fundação da companhia), Maturatta, Black e Swift no varejo.
A mesma tática vale para os mercados da Austrália, Europa e Estados Unidos, onde domina a marca Pilgrim´s.

vegetal Outra importante frente de negócio é a carne vegetal. Desde maio, a JBS produz e vende seu próprio hambúrguer vegetal com sabor, textura e aparência de carne. A novidade, chamada de Incrível Burger, uma divisão da Seara Gourmet, é produzido com ingredientes como soja, beterraba, alho e cebola. A companhia também possui outra opção no segmento, lançada anteriormente, o Hambúrguer Mix de Cogumelos. “Nós produzimos aquilo que as pessoas querem consumir. Se a tendência de parte dos consumidores é substituir a proteína animal pela vegetal, vamos fazer”, disse Tomazoni. “Nosso produto, por meio de nossas avaliações de degustação às cegas, tem se mostrado muito superior aos da concorrência”.

A revolução vegana e vegetariana tem levado não apenas as pessoas a reduzir o consumo de proteína animal, como também instigado os consumidores a saber a origem dos produtos que ingerem e qual é o impacto da cadeia produtiva para o meio ambiente. Com a busca incessante por uma alimentação saudável, gigantes do mundo da alimentação devem voltar, cada vez mais, esforços para esse tipo de consumidor. “Estamos observando a inserção de todas as grandes marcas nesse mercado. A JBS, a Marfrig e a BRF estão olhando possibilidades para esse público. Todas têm uma rede de distribuição desenvolvida e já sabem trabalhar com produtos refrigerados. Do ponto de vista comercial, é algo que faz bastante sentido”, diz Maria Alice Narloch, analista de pesquisas da consultoria Euromonitor.