Fundada no ano passado, a Arco Educação saiu, em apenas um dia, do quase completo desconhecimento por parte dos investidores, analistas de ações e do mercado corporativo em geral para o sucesso internacional. Em 25 de setembro, a empresa abriu o seu capital na Nasdaq, a bolsa americana favorita das empresas de tecnologia e das startups. No processo, a novata arrecadou US$ 194,5 milhões, cerca de R$ 780 milhões, pela negociação de 22,8% de participação no negócio. O restante das ações permanece com a família Sá Cavalcante, fundadora da companhia, e com o fundo americano de private equity General Atlantic. Entre os oito bancos de investimentos escolhidos para coordenar o IPO, a grande maioria era internacional, como o Goldman Sachs, o Morgan Stanley e o Allen & Co, o que deixou o processo fora do radar de muita gente do mercado brasileiro. “A opção pela Nasdaq nos coloca em contato com um ecossistema de tecnologia formado por empresas e investidores que podem contribuir para construirmos uma das melhores companhias de educação do mundo”, disse à DINHEIRO o empresário de 38 anos Ari de Sá Neto, fundador e CEO da Arco.

A estratégia de se expor ao investidor internacional, antes mesmo de ficar conhecida por aqui, deu certo para a Arco. Até a quarta-feira 10, as ações da empresa já tinham subido 29%, elevando o valor de mercado dela para US$ 1,1 bilhão. Essa valorização coloca a startup no seleto grupo de unicórnios brasileiras, como são chamadas as novatas com valor de mercado igual ou superior a US$ 1 bilhão. Até então, a lista incluía o aplicativo de transportes 99, a empresa de pagamentos PagSeguro e a fintech Nubank (leia reportagem aqui).

Segundo o fundador, todo o dinheiro da abertura de capital ajudará na expansão do negócio, que passa a ter fôlego para apostar em três frentes. São elas: tecnologia para desenvolver as ofertas da Arco; aquisições e investimentos em plataformas de ensino; e aquisições e investimentos em soluções suplementares para educação básica. “Acreditamos no potencial de crescimento orgânico da base de escolas que utilizam o nosso sistema”, disse o empresário. Para entender a estratégia da empresa é preciso conhecer um pouco melhor as suas origens. Apesar de ter sido criada em 2017, a companhia tem uma história que remonta à fundação do Colégio Ari de Sá, em Fortaleza, em 2000. Referência de ensino na região, ele leva o nome do avô do fundador da Arco.

Origem: o sistema de ensino SAS, vendido pela empresa, nasceu na escola Ari de Sá, um dos negócios da família cearense

A família, aliás, tem grande tradição na educação e ajudou a desenvolver desde a década de 1940 o ensino no Ceará, que hoje é reconhecido nacionalmente e conquistou 40% das vagas do Instituto Tecnológico de Aeronáutica (ITA) no ano passado. Em 2001, os irmãos Tales e Oto tiveram um desententimento na gestão e dividiram os negócios. Tales ficou com o colégio Farias Brito, que foi onde seu pai, Ari de Sá Cavalcante, começou. Oto ficou com outras duas escolas e adotou o nome Ari de Sá para seu negócio.

Em 2004, foi estruturado o sistema de ensino SAS, baseado na experiência de sua escola, e que se tornou o grande motor de expansão dos negócios que daria origem à Arco. “Mesmo que falem que o Colégio Ari de Sá é convencional, ele conseguiu oferecer uma grande qualidade de ensino e diferenciais que impulsionaram o modelo que criaram”, diz Caio Polizel, coordenador da área de consultorias da Hoper Educação. Apesar de sua origem, o SAS atua, desde o início, de forma independente do colégio. Na última década, o sistema de ensino foi ganhando corpo. Desde 2006, a base de alunos vem subindo 50% ao ano, e atingiu 405 mil pessoas, em 1.140 escolas em todo o País, em março deste ano. Em 2017, o faturamento da Arco ficou em R$ 244,4 milhões, com lucro de R$ 43,6 milhões. Neste ano, o faturamento foi de R$ 195,1 milhões, apenas no primeiro semestre.

Alguns movimentos do passado indicam o caminho que a Arco pode seguir com o dinheiro captado. Entre 2015 e 2016, a empresa adquiriu participações minoritárias em três negócios: a escola de instrução suplementar International School, a companhia de sistemas educacionais WPensar e a plataforma de conteúdo Geekie. “Os investimentos feitos seguem o nosso foco de atuação, que é o desenvolvimento de soluções para escolas de educação básica privada”, afirma Ari de Sá Neto. “As empresas em que investimos acompanham essa premissa, do mesmo modo que startups de tecnologia educacional também estão totalmente alinhadas com os nossos objetivos.”

Atualmente, a empresa detém a sétima posição do ranking de sistemas de ensinos, segundo a Hoper Educação, que é liderado pelo grupo Positivo, o Somos Educação (comprado pela Kroton), o Objetivo e o britânico Pearson. O mercado alcança 3,4 milhões dos 9 milhões de alunos do ensino básico em escolas privadas. “O número de crianças e jovens matriculados está diminuindo, por conta do envelhecimento da população”, diz Polizel. “Mas sempre que ocorre um crescimento econômico aumentam as inscrições em escolas de qualidade e que utilizam sistemas do mercado”, afirma o especialista. É tudo que a Arco precisa para aumentar o seu triunfo.