A cena é conhecida: logo que o bebê nasce, o pai, a mãe, o avô ou a avó abre uma caderneta de poupança para a criança. Mas agora a velha tradição mudou. Os parentes dão de presente planos de previdência. Pouco depois de nascer, os bebês já contam com aposentadoria garantida. Nos dois últimos anos, as famílias aderiram à novidade financeira de maneira fulminante: desde 2001, foram vendidos 700 mil planos, com uma arrecadação de R$ 228 milhões. O produto ainda engatinha, mas já movimenta quase 4% do mercado de previdência, de R$ 7,5 bilhões. As empresas apostam até que as famílias poderão trocar brinquedos por presentinhos financeiros no Dia das Crianças. ?Os bancos querem aproveitar a data e dobrar as vendas?, diz Osvaldo do Nascimento, presidente da Anapp (Associação Nacional da Previdência Privada) e diretor de Previdência do Itaú.

Os novos planos de previdência para jovens são parecidos com os produtos voltados para adultos. São os PGBLs (Plano Gerador de Benefício Livre) e VGBLs (Vida Gerador de Benefício Livre). Funcionam como fundos de investimento, com rendimento mensal e, em alguns casos, abatimento do Imposto de Renda. Assim como ocorre com os planos para adultos, também pode-se escolher se a aplicação será baseada em renda variável (ações), renda fixa (títulos públicos) ou uma mistura das duas. Pode-se resgatar o dinheiro em qualquer momento, após um período de carência que varia de acordo com cada banco. A principal diferença entre os produtos para jovens e adultos é a oferta de um seguro para a criança. Em caso de falecimento do pai, o banco continuará depositando as parcelas mensais do PGBL ou do VGBL até atingir a maioridade. ?Esse é, literalmente, o investimento do futuro?, diz Jorge Nasser, superintendente de marketing da Bradesco Vida e Previdência.

Quase todos os bancos já oferecem o plano para jovens, com diferentes serviços associados. No Santander, por exemplo, pode-se escolher tudo, desde o valor da contribuição (a partir de R$ 50,00) até a idade que o filho irá receber a renda. Junto com o plano, há um pecúlio de R$ 50 mil que será pago em caso de morte do pai. No Itaú, o cliente compra um plano para o filho e leva um seguro a cada R$ 10,00 de acréscimo no pagamento. Quem ainda não tinha entrado nesse mercado, acaba de lançar novidades. ?Não queremos ficar de fora. É um nicho que vai crescer muito?, diz Sidney Pariz, diretor de previdência do HSBC, que começou a oferecer os planos em janeiro. Seu plano tem uma diferença: se o pai sofrer um acidente e ficar inválido, o banco cobre o plano até o jovem completar 24 anos. Além disso, oferece sorteios mensais de prêmio em dinheiro.

Maior administrador de planos de previdência no País, o Bradesco abriu uma página na internet com jogos e brincadeiras para atender à nova freguesia mirim. Seu plano pode ser associado a outros produtos, como o seguro de vida para os pais. Hoje, o banco tem 120 mil clientes de até 18 anos. Seu volume de negócios só perde para o BrasilPrev, do Banco do Brasil, com 400 mil clientes. ?É um segmento muito importante para nós?, diz Eduardo Bom Angelo, presidente da BrasilPrev.

Se para os bancos é um bom negócio, para os pais, os PGBLs e VGBLs têm vários objetivos. O administrador de empresas Fernando Matos da Silva comprou PGBLs para seus dois filhos, Heloísa, 7, e Guilherme, 10, pensando não só na aposentadoria deles. ?Quero proteger ao máximo meus filhos?, diz o previdente Silva, que fez até seguro de vida para as crianças. ?Quero criar condições para que disputem o mercado de trabalho quando crescerem.? Ou seja, Heloísa e Guilherme poderão sacar o dinheiro para pagar a faculdade.

Essa é outra razão para o rápido crescimento dos planos para crianças. Com idade média entre 30 e 40 anos e com boa
situação financeira, os pais não estão pensando apenas na aposentadoria de seus filhos. Querem garantir com os PGBLs e os VGBLs os recursos para a educação dos filhos. No Bradesco, os clientes recebem até um guia de profissões com o preço dos cursos em cada universidade. ?O custo para formar o filho numa faculdade privada de boa qualidade é de R$ 100 mil e a despesa dobra quando o curso é de medicina?, argumenta Maximiliano Rodrigues, gerente-geral de produtos do Santander.

O Unibanco percebeu na preocupação com a educação uma oportunidade de mercado e reformulou seu plano de previdência, o PreverKids. Agora com o nome de Prever Educação, o produto é vendido como uma poupança para garantir a formação dos jovens. ?Claro que os recursos poderão ser usados para outros fins, mas identificamos que a educação é a maior preocupação dos pais?, diz Hosannah Santos Filho, diretor de vida e previdência do Unibanco AIG. Em caso de morte do pai, os estudos do filho estarão garantidos até 24 anos. O Unibanco tem 25 mil jovens clientes.

Mas a educação não é a única preocupação dos pais. Muitos estão preocupados em garantir uma renda futura, independentemente dos gastos com a faculdade. ?As pessoas recorrem aos planos para crianças porque querem oferecer para os filhos o mesmo padrão de vida que têm hoje até a aposentadoria?, diz Edson Franco, diretor de vida e previdência da Real Seguros. É o caso do empresário João Apude. Sua filha, Letícia, tem um ano e cinco meses, mas já ganhou um plano de previdência. ?Já estou planejando o futuro dela?, diz o empresário. ?Vou tentar não usar o dinheiro para custear a educação dela, mas para garantir uma aposentadoria tranqüila.?

O próximo passo dos bancos e seguradoras é atacar um novo público alvo: depois dos pais, querem cativar os avós. Os PGBLs e os VBGLs podem ser novidade, mas presentear os netos com uma poupança é prática mais do que tradicional e os gerentes dos bancos estão de olho nesse mercado. ?Pensei em abrir uma caderneta de poupança para ele, mas o rendimento é muito baixo. Quem sabe ele não usa o dinheiro para comprar um carro ou até fazer uma viagem??, pensa longe a jovem avó Maria de Fátima Flores, de 46 anos, que acaba de presentear o neto Eduardo Cukier, de quatro anos e meio, com um plano de previdência.