Chega-se a Águas Lindas de Goiás rodando por 50 minutos em uma via asfaltada larga, como todas que hoje unem Brasília às cidades satélites. Ao longo dos 30 quilômetros desde o aeroporto da Capital Federal, o cenário vai mudando. Deixa-se a suntuosidade do Plano Piloto e passa-se ao largo de Águas Claras e Ceilândia até se chegar a essa cidade dormitório com mais de 200 mil habitantes, um dos municípios que mais crescem no Brasil. De linda, Águas Lindas não tem muito. Surgiu há apenas 25 anos, na esteira da carestia de vida nas imensas Ceilândia e Taguatinga, outrora vilas de “candangos” que levantaram Brasília há 60 anos. Sobram demandas em Águas Lindas. Pelo menos para a população de baixa renda, a grande maioria. É esse pessoal que foi contemplado com o lançamento mundial de uma das principais iniciativas da gigante espanhola de telecom Telefônica, dona da Vivo no Brasil. Ali, sob a marca Terra, reciclada do seu portal de internet, a Vivo lançou, na quarta-feira 20, o inovador projeto de franquias para oferta de banda larga por meio de fibra ótica. O primeiro parceiro é a XIS Internet Fibra S/A. A cidade celebrou com uma carreata no sábado anterior.

“O compartilhamento de infraestrutura é tendência, embora esteja concentrada nas redes celulares. A gente trouxe esse modelo também para a parte fixa. A franquia em si é ainda mais inovadora, porque traz um conceito que é muito mais do varejo. Isso sim é único, e bem específico do Brasil. É o primeiro país onde o grupo (Telefônica) está fazendo e conheço poucos casos nesse tamanho e com essa ambição em qualquer lugar do mundo”, disse à DINHEIRO o presidente da Vivo, Christian Gebara.

A XIS Internet, formada por um grupo de empresários que prefere o anonimato e sustentada por dois fundos de investimentos, aportou R$ 5 milhões no empreendimento. O lançamento, com a presença do prefeito da cidade, deu o tom da expectativa da empresa: ela quer distribuir fibra ótica em mais duas cidades de Goiás até o fim do ano, somando R$ 10 milhões em investimentos em 2019. “A ideia é colocar outros R$ 100 milhões em 2020, com franquias em mais 50 cidades”, disse o vice-presidente de Relações Institucionais, Marco Antonio Carbonari. A XIS, afirma o executivo, já tem contrato para 100 cidades em quatro estados. Ele diz desconhecer quantos concorrentes tem, mas acredita que os provedores menores vão se unir à sua empresa. “Vamos trazer para dentro”, garante. E não está preocupado com eventual competição entre fibra ótica e 5G, padrão de transmissão pelo ar que muitos analistas veem como tendência para conectar o mundo digital, por apresentar baixa latência, fundamental para o mundo automatizado. Para Carbonari, as duas não competem. “São complementares”. Além disso, vê com cautela a vinda do 5G ao Brasil, com leilão previsto para 2020. “É preciso botar a equação custo-benefício de pé. A gente está um pouco distante disso”.

“A franquia em si é inovadora porque traz um conceito que é mais do varejo” – Christian Gebara, presidente da VIVO (Crédito:Divulgação)

A Vivo, maior operadora de telefonia móvel do país, vem pensando nesse modelo de franquias para banda larga fixa há mais de dois anos. Com as franquias, a empresa dribla o limite anual de R$ 9 bilhões do capex (recursos destinados a aquisição de bens de capital). “É uma mudança enorme na nossa maneira de fazer fibra”, diz Gebara. Hoje, a Vivo atinge 254 cidades. “Isso é muito pouco. A gente quer acelerar”.
No mapa da empresa já são 11 milhões de domicílios com FTTH (fiber to the home, ou “casas passadas”) e pode chegar a 62 milhões de casas e escritórios em pequenas localidades. “Temos para escolher mais de mil cidades para fazer franquias”, disse Gebara. “Ou bairros”, completa, citando cidades grandes como São Paulo. A parte da Vivo nesse latifúndio varia entre 8% e 12% da receita bruta dos franqueados.

No negócio, ao franqueado cabe fazer os investimentos de rede — instalar a ligação até o backbone da Vivo, passar a fibra ótica pela cidade, e montar a loja. Os pequenos provedores já existentes em várias localidades podem tornar-se franqueados. Vão ter de investir no mínimo algo em torno de R$ 2,5 milhões, mas receberão o suporte da empresa e evitarão a concorrência de uma marca tão grande, como a Vivo. “Ele pode avaliar se vai querer pagar royalty, que hoje não paga. Mas pode valer à pena. Todos os equipamentos novos ele vai comprar com preço que a Vivo compra. E vai receber toda a expertise”, disse Gebara.

Como comentou o presidente no rápido discurso da cerimônia de inauguração da loja em Águas Lindas, o franqueado “é dono do cliente; a gente cede nosso conhecimento”.