Empresas prestadoras de serviços públicos, como companhias de energia, saneamento ou telefonia são conhecidas – um pouco pejorativamente – como “ações de viúva”, por pagarem dividendos estáveis todos os anos. A generosidade e a previsibilidade são fáceis de explicar. Essas empresas costumam ter uma posição dominante em seus mercados, que lhes permite desfrutar de virtuais monopólios, e suas atividades tendem a ser estáveis. O consumo de água ou de eletricidade de uma cidade não muda muito de ano para ano. Agora, porém, a coincidência entre a queda dos juros, a retração do crédito e a melhora dos resultados do sistema financeiro fez outro segmento entrar nessa lista: os bancos. Isso elevou as cotações das boas pagadoras, como é possível notar comparando o índice de dividendos com o Ibovespa (observe o gráfico).

Rafael Bevilacqua, da Levante: empresas que pagam bons dividendos estão com preços descontados no pregão (Crédito:Divulgação)

Ao divulgar seu lucro recorde de R$ 3,6 bilhões no segundo trimestre, o Santander Brasil também anunciou uma elevação de 67% do percentual dos lucros a ser distribuídos como proventos, que cresceriam para cerca de 50% do resultado líquido. Sérgio Rial, presidente do banco, afirmou que era uma maneira de remunerar adequadamente os acionistas e garantir capital suficiente para fazer frente à expansão da carteira de empréstimos para o segundo semestre. Nisso, o banco segue uma prática inaugurada pelo Itaú Unibanco. Em 2018, a instituição presidida por Candido Bracher distribuiu mais de 80% dos lucros aos acionistas. “Olhando o mercado hoje, devemos continuar com uma política de dividendos elevada”, disse Bracher na terça-feira 30, ao comentar os resultados do semestre. Mesmo o Bradesco, que costuma reservar uma fatia maior do capital para alicerçar o crescimento de seus empréstimos vai manter a distribuição de generosos 34% dos lucros deste ano.

Anand Kishore, do Daycoval: proventos pagos pelos bancos levaram o dividend yield do Índice Bovespa acima da média histórica (Crédito:Divulgação)

CRESCIMENTO EXCEPCIONAL A generosidade dos bancos com seus acionistas tem motivo. “As carteiras de crédito cresceram pouco nos últimos anos, e os bancos estão muito líquidos, com excesso de capital”, diz Anand Kishore, gestor de fundos de renda variável do banco Daycoval. “Isso vem provocando um crescimento excepcional no pagamento de dividendos.” Segundo Kishore, esse fenômeno chegou a alterar as médias do mercado. O número que mede isso é calculado dividindo-se o valor pago em dividendos pela cotação da ação no dia do pagamento, um indicador conhecido pelo nome em inglês de dividend yield. Para o gestor, o dividend yield médio das ações do Índice Bovespa está em 3,1%. Nos últimos anos, ele tem ficado em torno de 2,1%. E isso deve continuar. “Os bancos são muito grandes, quase tão grandes como a própria economia, e seu lucro neste ano deve crescer de 8% a 10% em relação a 2018”, diz ele. Como as instituições financeiras sanearam suas carteiras de empréstimos e reduziram a inadimplência, elas deverão apresentar bons lucros nos próximos trimestres, mantendo a boa remuneração aos acionistas.

Os bancos são os novos participantes do clube das empresas generosas em dividendos, mas os setores tradicionais também prometem bons lucros. Dentre as companhias de energia, as preferidas são as empresas de transmissão. “São as que apresentam os resultados mais previsíveis”, diz Rafael Bevilacqua, estrategista-chefe da empresa de análise Levante Ideias de Investimentos. Entre as recomendadas, Transmissão Paulista, com um dividend yield previsto entre 9% e 10%, e a empresa de saneamento paranaense Sanepar, com 7% esperados. “E esses papéis estão descontados na bolsa, pois suas cotações ainda não refletem totalmente a redução dos juros”, diz ele.