Por Marcela Ayres

BRASÍLIA (Reuters) – A dívida pública federal do Brasil subiu 1,57% em agosto sobre julho, a 5,481 trilhões de reais, em mês de forte protagonismo das emissões de títulos atrelados à Selic, em meio à piora nas condições de mercado para os demais títulos.

Conforme dados divulgados nesta segunda-feira pelo Tesouro, houve emissão de 47,7 bilhões de reais em papéis ligados à taxa flutuante no mês, com resgate de 1,3 bilhão de reais.

Segundo o Tesouro, o forte peso desses títulos, compostos majoritariamente por LFTs, dentre as emissões no período –67,5% do total– demonstra “uma mudança no perfil das emissões”.

Na prática, houve encarecimento em agosto nas taxas médias das emissões de títulos prefixados e ligados à inflação, num ambiente de contínuos questionamentos fiscais, notadamente em relação aos precatórios e ao financiamento do novo Bolsa Família. Com isso, a curva de juros ganhou nível e inclinação.

Ao mesmo tempo, investidores têm demandado papéis ligados à Selic, já que a rentabilidade dos títulos aumenta com a subida dos juros básicos. Esses papéis também costumam ganhar mais espaço em momentos de aversão a risco.

Após ter iniciado o ano na mínima histórica de 2%, a Selic já subiu 4,25 pontos desde março, ao patamar atual de 6,25% ao ano, com o BC intensificando o ritmo de alta em meio à aceleração da inflação no país. Em agosto, a taxa havia sido elevada em 1 ponto pelo BC, a 5,25% ao ano, dose repetida na reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) da semana passada.

Em relação aos títulos prefixados, foram emitidos 7,8 bilhões de reais e resgatados 389,8 milhões de reais, “o menor valor desde junho de 2018”, informou o Tesouro.

Já entre os títulos indexados à inflação, houve emissão de 15,1 bilhões de reais e resgates de 24,1 bilhões de reais.

Segundo o coordenador-geral de Operações da Dívida Pública, Luis Felipe Vital, os 72 bilhões de reais em emissões totais no mês de agosto ficaram bem abaixo das últimas médias mensais.

“Mês de agosto foi mês bastante negativo para emissão de prefixados, para emissão de índices de preço. Então Tesouro segurou um pouco a emissão desses títulos, mas conseguiu manter a emissão de LFT, a emissão de títulos de taxa flutuante. Isso faz com que haja essa concentração”, disse.

Apesar do quadro, o Tesouro disse em nota que passou a observar ao longo de setembro um “retorno gradual na demanda dos investidores por títulos prefixados e indexados à inflação, consistente com um retorno também gradual das emissões desses papéis”.

“O Tesouro seguirá monitorando os mercados e reforça que a atual situação do caixa da dívida, suficiente para 10,5 meses de vencimentos à frente, dá flexibilidade ao Tesouro ajustar os volumes ofertados de acordo com as condições de mercado”, disse.

A reserva de liquidez da dívida fechou agosto em 1,227 trilhão de reais, alta de 57,8% sobre igual mês do ano passado, em termos nominais. Nos próximos 12 meses os vencimentos da dívida são estimados em 1,364 trilhão de reais.

“É um colchão maior, mas é um colchão compatível com dívida maior e com torres de vencimento também maiores”, afirmou Vital, ressaltando que os meses de setembro e outubro serão marcados por vencimentos de cerca de 500 bilhões de reais.

Ele pontuou que a reserva mais robusta proporciona ao Tesouro margem na gestão das emissões e segurança para perseguir sua estratégia.

Em relação aos detentores, a participação dos investidores estrangeiros na dívida mobiliária interna subiu a 9,76% do total em agosto, de 9,67% no mês anterior.

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