Desde que acompanho, há algumas décadas, o movimento pela inclusão e incentivo à diversidade nas empresas percebo que passamos por três fases distintas em nosso país: A primeira, das pioneiras, empresas multinacionais norte-americanas que seguiam as diretrizes de suas matrizes do Norte e tentavam fazer algo aqui inspiradas em suas matrizes. Nesse primeiro momento, 30 anos atrás, destaco Levis Strauss, marca de roupa e de uma fabricante de bip. A tataravó do celular, a empresa Motorola.

A segunda fase veio já no despertar deste século 21: empresas preocupadas com a globalização, a maioria novamente multinacionacionais e com o advento de um mundo cada vez mais diversos e globalizado, produzir para pessoas tão diversas como europeus, asiáticos, africanos, latino-americanos com religiões, culturas e etnias tão diferenciadas, a diversidade passa também a ser um bem de consumo.

A terceira fase e olhando especificamente para o Brasil, houve uma corrida nos últimos 10 anos não só por conta do atraso nosso em termos de diversidade, mas também por uma pressão cada vez maior do público interno com uma população gigantesca, diversa, desigual e cada vez mais informada e atenta aos malefícios das discriminações de raça e gênero.

Tentando acompanhar essa tendência empresas brasileiras, em sua maioria, entraram nesse processo de forma atrasada e algumas erroneamente vêm pulando processos, ao invés de atacar o problema e enfrentá-lo no cerne da questão, que é a área de recursos humanos, têm transferido o problema para o marketing, mudando um pouco a cara da empresa colocando negros e mulheres para apresentar seus produtos, o que também ajuda, mas não muda de parâmetro as diferenças gritantes quando se trata de cargos e salários em algumas companhias.

Se analisarmos, por exemplo, a pesquisa Etos de pouco mais de 10 anos comparada com a mesma pesquisa que mandei encomendar quando ainda era secretário da igualdade racial da cidade de São Paulo junto às 500 maiores empresas do país, veremos que o que mais mudou em 10 anos foi o marketing e a visibilidade do problema, porque de forma estrutural negros e mulheres continuam altamente discriminados em cargos e salários na economia brasileira.

A boa notícia é que as poucas empresas, que levaram a sério a máxima de que a diversidade dá lucro e é um bom negócio, estão vendo seus produtos e a relação com seus consumidores prosperarem, investiram só em marketing, começam a ser cobradas pelos números cada vez mais públicos de como é que estão negros e mulheres nos cargos decisórios das empresas, e começam a ter consciência de que a importancia da diversidade no mundo corporativo é um caminho que não tem volta.