Desde que teve início minha coluna aqui na Isto é Dinheiro, sobre diversidade nas empresas, tenho acompanhado e debatido constantemente os avanços desta área tão importante não só da economia, mas também do desenvolvimento humano e sustentável do planeta.

Se hoje o atual ciclo econômico e social em que vivemos, por conta do advento da globalização e da revolução da informação, tornou-nos de fato uma aldeia global, expondo-nos a todos as crises, tudo está intrincadamente conectado à sustentabilidade do planeta e de nós mesmos como civilização.

Não é preciso ser estudioso do assunto para saber que a exclusão provocada por essa crise tem um foco preciso que é a cor, sexo e origem das pessoas. É só acessar um botão do celular ou de uma TV em qualquer noticiário, e querer enxergar os fenótipos, cor, raça e sexo dos que mais sofrem com as desigualdades e todo tipo de violência derivada desse nosso tempo.

Porém, uma revolução silenciosa, de costumes, impulsionada pela força da comunicação rápida dos meios tecnológicos e por uma nova geração, tem reacendido as esperanças de mudanças substanciais de valores e preconceitos de séculos passados que insistem em permanecer. Aliás, muitos deles querem usar exatamente da tecnologia para se perpetuar.

No mundo do corporativo isso não é diferente, e quando trabalho e tecnologia se une em uma só vertente, base essencial da revolução 4.0, o controle dessa operação em mãos preconcebidas pode ser catastrófico do ponto de vista da evolução humana, propagando preconceitos, discriminações, homofobia e racismo, para além das fronteiras do ambiente de trabalho.

Já citei aqui mesmo na Isto é Dinheiro dados assustadores dessas novas tecnologias a serviço da discriminação, que podem perpetuar discriminação histórica. Gosto sempre de citar um dos pilares da indústria 4.0 que é IA – Inteligência Artificial, e sua assustadora falta de diversidade nas pessoas que programam e controlam essa área da indústria 4.0. Já falei desses números, mas é sempre bom repetir: Nos Estados Unidos, apenas 2,5% da força de trabalho do Google é formada por negros, o Facebook e a Microsoft não ultrapassam 4%, uma realidade que assusta até os dirigentes dessas empresas que começam a tomar atitudes para mudar este quadro.

O impacto dos aplicativos, máquinas e robôs concebidos sobe ótica da inteligência artificial, pode provocar danos sociológicos irreparáveis, onde uma simples operação bancária como um empréstimo em que um robô com base nos seus dados de habitação, renda, trabalho, origem étnica, fenótipo e até do remédio que você comprou na farmácia deixando o número do CPF, será analisada por uma máquina que decidirá sobre o crédito e até sobre sua admissão em uma vaga.

É máquina reproduzindo a opressão de que secularmente fomos vítimas e isso pode se espalhar para todas as atividades humanas. Teremos cidadãos de primeira, segunda classe, só que determinados por máquinas e quando você for reclamar poderá ouvir talvez um “o sistema caiu”.

Tendo essa pauta como norteadora, mas também recebendo exemplos positivos de pessoas e ações que têm mudado o mundo corporativo, o fórum Brasil Diverso 2019 consegue ao mesmo tempo trazer para um único evento empresas de ponta de tecnologias como VIVO e GOGLE, entre outras, mas também pessoas que são exemplo de luta e espaço da diversidade. Uma das estrelas do encontro será Rachel Maia, CEO da Lacoste, foi CEO por 9 anos da Pandora e continua fazendo história como única CEO negra de uma empresa global na América Latina. O fórum também irá trazer Maria Cristina Sampaulo, vice-presidente do banco de Gestão do Goldman Sachs que, lésbica, sua história de superação e luta tem servido de inspiração para mudanças de comportamento no mundo corporativo. Assim como o CEO Theo Van der Loo, que em um episódio soube usar uma ferramenta do mundo virtual, o Linkedin impactou o mundo corporativo ao expor a forma como muitas empresas discriminam negros no seu processo seletivo.

Em tempos de comunicação, censuras e fake News, a área de comunicação será bastante contemplada com Flavia Lima, primeira mulher negra ombudsman da Folha de São Paulo, Luciana Barreto, jornalista da CNN Brasil, Joyce Ribeiro, apresentadora do Jornal da Cultura, entre outras.

O setor público também foi pensado, uma vez que governos de várias partes do planeta, com suas agendas conservadoras e extremamente retrocedentes, têm levado a espaços públicos e privados mais violência, homofobia, racismo, intolerância e outras formas correlatas de instabilidade; a Bahia trás para o evento seu exemplo com uma secretaria de Estado criada há mais de uma década no combate às discriminações.

O Brasil tem um papel especial neste contexto global, por ser um dos países mais diversos do mundo, com a maior floresta tropical do planeta, uma população ainda jovem comparada, por exemplo, com a Europa. Mais da metade da população é descendente do continente africano. É nosso papel e missão, nesse momento tão delicado, darmos o rumo deste momento civilizatório. Os avanços e desafios que a pauta da diversidade tem levantado são essenciais para ultrapassarmos este delicado período da nossa história.