O distanciamento social aplicado na China teve uma participação relevante no controle da disseminação do coronavírus no país asiático. “As drásticas medidas de controle implementadas na China reduziram substancialmente a disseminação da covid-19”, conclui um estudo internacional divulgado nesta quarta-feira, 25, na “Science”. A pesquisa é assinada por cientistas de alguns dos principais centros de pesquisa do mundo, como Universidade de Oxford, no Reino Unido, Universidade de Harvard, nos EUA, e Instituto Pasteur, na França.

Os autores enfatizaram que as medidas de distanciamento social funcionam, mas é necessário esperar algum tempo para que os seus efeitos positivos sejam notados. Em pronunciamento oficial na noite desta terça-feira, o presidente Jair Bolsonaro exortou a população a não cumprir as medidas de isolamento.

Entre outras medidas drásticas adotadas pela China, estão a quarentena de cidades inteiras, o fechamento de serviços não essenciais e a restrição nas viagens aéreas. O estudo foi feito com dados de plataformas móveis, obtidos em tempo real, na cidade de Wuhan, epicentro da epidemia.

O novo coronavírus foi detectado no fim de dezembro do ano passado e rapidamente se espalhou pela China. Os especialistas rapidamente perceberam que no início da epidemia a distribuição dos casos de covid-19 em Wuhan acompanhava a mobilidade da população. Depois da implementação das medidas de controle, essa correlação cai drasticamente, comprovando que as iniciativas drásticas de restrição de mobilidade foram eficazes.

“As intervenções implementadas incluem o aumento da testagem, o rápido isolamento dos casos suspeitos, dos casos confirmados e das pessoas que tiveram contato com eles”, diz o estudo. “Notadamente, foram adotadas medidas de restrição na mobilidade impostas em Wuhan já no dia 23 de janeiro. Restrições de viagem foram impostas em 14 outras cidades da província de Hubei logo depois.”

De acordo com o estudo, as restrições de viagens são particularmente eficientes nos primeiros estágios, quando a epidemia está ainda confinada a uma determinada área que funciona como a fonte da disseminação do vírus. Entretanto, dizem, podem ser menos eficaz depois que a epidemia já está mais espalhada.

“A combinação de intervenções adotadas na China foram claramente bem sucedidas em reduzir a disseminação e a transmissão local da covid-19”, concluíram. Os cientistas calcularam que a adoção dessas medidas atrasaram a disseminação do vírus em pelo menos três dias.

“As províncias chinesas e outros países que já conseguiram deter a transmissão interna da covid-19 devem considerar cuidadosamente como pretendem liberar as viagens e a mobilidade para que a doença não retorne à população”, afirmou Moritz Kraemer, da Universidade de Oxford, principal autor do estudo.