O dissidente de Hong Kong Joshua Wong, uma das figuras mais conhecidas do movimento pró-democracia, foi condenado nesta quinta-feira a mais 10 meses de prisão por ter participado em 2020 em uma vigília “ilegal” de recordação da repressão na Praça Tiananmen (Paz Celestial).

Durante décadas, a ex-colônia britânica foi o único lugar na China que recordava a violenta intervenção do exército chinês contra o movimento social e estudantil de 1989 em Pequim.

Mas pela primeira vez em 30 anos, o governo não autorizou a vigília em 4 de junho de 2020, apresentado como pretexto a luta contra a pandemia, mas coincidindo com a maior intervenção do governo central chinês no território semiautônomo.

Dezenas de milhares de pessoas, no entanto, desafiaram a proibição para recordar pacificamente o 31º aniversário da repressão no Parque Victoria, no centro de Hong Kong.

Após a manifestação, as autoridades iniciaram um processo contra 24 personalidades do movimento pró-democracia.

Nesta quinta-feira, quatro deles – Joshua Wong, Lester Shum, Tiffany Yuen e Janelle Leung -, que se declararam culpados de participar em uma concentração ilegal, fueron condenados.

Wong, um dos nomes dos protestos em Hong Kong mais conhecidos no exterior, foi condenado a 10 meses de prisão.

Atualmente ele cumpre uma pena de 13 meses e meio de prisão por ter participado em outra manifestação durante o movimento de protesto em 2019.

“Esta pena deve dissuadir as pessoas de cometer crimes e reincidir”, declarou o juiz Stanley Chan.

Shum foi condenado a seis meses de prisão. Yuen e Leung a quatro meses. Joshua Wong, Lester Shum e Tiffany Yuen também são processados por outro caso, baseado na lei de Segurança Nacional que Pequim impôs a Hong Kong no ano passado e que é o principal instrumento da repressão chinesa na ex-colônia britânica.

Os outros acusados, que incluem mais líderes do movimento pró-democracia, alguns deles já detidos, serão julgados nos próximos meses.

– Assunto tabu na China –

A violenta intervenção do exército chinês na Praça da Paz Celestial, na madrugada de 3 para 4 de junho de 1989, acabou com sete semanas de protestos de estudantes e trabalhadores contra a corrupção e a favor da democracia na China.

A repressão, que deixou quase mil mortos, é um tema tabu na China.

Durante décadas, a vigília em Hong Kong atraiu multidões e era um símbolo das liberdades únicas que existiram por muito tempo no território, ainda teoricamente semiautônomo, que voltou ao controle chinês em 1997.

Em 2019, a vigília do 30º aniversário aconteceu em um contexto político tenso.

Uma semana depois teve início o maior movimento de protesto contra o poder chinês em Hong Kong, com manifestações quase diárias, às vezes violentas, que prosseguiram até dezembro de 2019.

Atualmente, nada indica que o aniversário da repressão de Tiananmen voltará a ser recordado algum dia em Hong Kong.

A China aproveitou a pandemia de covid-19 e as restrições impostas para combater e restringir drasticamente as liberdades em Hong Kong, além de obstruir e deter os dissidentes.

Além da lei de Segurança Nacional, uma nova campanha para fazer com que “Hong Kong seja governado pelos patriotas” permitirá julgar com antecedência a “lealdade” de qualquer candidato a um cargo.

As autoridades já indicaram que a recordação do massacre da Praça Celestial não será permitida no próximo mês. Mas a advogada Chow Hang-tung, que integra a coalizão que organiza a vigília, prometeu que a data não será esquecida.

“Encontraremos uma maneira de nos reunirmos e será em público”, disse.