O processo de consolidação do mercado de ensino no Brasil está aquecido. Na segunda-feira 21, a mais recente demonstração dessa temperatura foi a compra das operações no País do grupo educacional americano Adtalem (dono do Ibmec) pela Yduqs (que controla a Estácio). O valor do negócio alcançou R$ 1,9 bilhão. Com a aquisição, a Yduqs recupera a segunda colocação no ranking de maiores instituições privadas no segmento de graduação do País — com 678 mil alunos e faturamento de R$ 4,5 bilhões —, à frente da Universidade Paulista (Unip). Fica atrás somente da Cogna (ex-Kroton), que segue na liderança, de acordo com dados da consultoria Hoper Educação.

A operação não precisará passar por assembleia de acionistas, mas ainda depende da aprovação do Conselho Administrativo da Defesa da Concorrência (Cade), segundo a Yduqs. O pagamento será feito à vista na data de fechamento da transação, com recursos próprios e financiamento. Embora esse tenha sido a maior transação da história da Yduqs no mercado, a empresa vem tendo crescimento considerável nos últimos anos. Como era de se esperar as ações da empresa subiram com o anúncio dessa operação. O objetivo da Yduqs é fortalecer sua presença no Norte e Nordeste do País. Ao mesmo tempo, quer crescer também no interior de São Paulo. Isso fica claro com a compra no mês passado da UniToledo, de Araçatuba, pelo valor de R$ 102,5 milhões. “Em meados do ano, entendemos que, para crescer, precisamos trazer gente com experiência de qualidade no setor, de referência. Não há outra marca tão conceituada em administração quanto o Ibmec (Adtalem) ”, disse o presidente da companhia, Eduardo Parente, em entrevista ao jornal O Globo. “A negociação vai originar uma unidade de negócios premium sob o chapéu da Yduqs.”

Com metas ousadas, a empresa quer avançar na oferta de ensino a distância e também ampliar os cursos de medicina, que tem maior tíquete médio. Para Paulo Presse, especialista da Hoper, a operação vai além do crescimento em alunos, segmentos e regiões do País. “Ao adquirir marcas de referência, a Yduqs atua na manutenção de sua própria marca, ganhando atrativos para o negócio como um todo”, diz. “Está comprando duas grandes pontas de crescimento: no ensino a distância, que é o segmento de maior crescimento em matrículas, e no premium, o de maior tíquete médio.”

O primeiro lugar no disputado mercado nacional é ocupado pela Kroton que, no início de outubro, se tornou uma holding chamada Cogna Educação. O valor da empresa gira em torno de R$ 18,2 bilhões. O modelo de crescimento adotado nos últimos anos foi o de compra de mercado – a tônica no setor não está lastreada em crescimento orgânico. Porém, ao tentar adquirir a Estácio, em 2017, esbarrou no veto do Cade.

A mudança para Cogna embute nova estratégia do grupo, que passa a operar com quatro empresas distintas. A Kroton, que tem como principal mercado as faculdades – caso da Anhanguera. A Saber, que entrou para disputar licitações no Programa Nacional do Livro e do Material Didático (PNLD), do Ministério da Educação, e atuar nos serviços de educação para o ensino básico. A futura Vasta, que focará a prestação de serviços de gestão para escolas e produção de material didático para alunos. E finalmente a Platos, para a prestação de serviços de gestão para o ensino superior.

PLANO POSITIVO Nesse ambiente de fusões e aquisições aceleradas no setor de ensino, o grupo paranaense Positivo, com sede em Curitiba, incorporou seis novas aquisições em uma semana. Duas unidades educacionais do Grupo Expoente, com 1,6 mil alunos matriculados, foram arrematadas em um leilão por R$ 58,3 milhões. Uma escola no bairro Água Verde e outra no Boa Vista, na capital paranaense. O valor mínimo que estava sendo considerado era de R$ 35 milhões. Além das unidades do Expoente, o Grupo adquiriu duas escolas em Foz do Iguaçu (Colégio Semeador) e duas em Cascavel (escola bilíngue Passo Certo).

Segundo o presidente da Positivo Educacional, Lucas Guimarães, o foco das aquisições é regional, porém, a estratégia engloba diferentes regiões do país. “Neste momento, priorizamos escolas de alto padrão no Paraná. No entanto, olhamos ativamente para escolas em outras regiões e devemos fazer novas aquisições nos próximos 12 meses. Para isso, planejamos investir R$ 200 milhões”.

O fato é que esse mercado de ensino tem apresentado um horizonte promissor. Como especialistas acreditam que o pior momento da economia já passou, os negócios tendem a voltar neste ano e em 2020. Novas formas de financiamento estão surgindo e facilitando a permanência do aluno na escola. A oscilação parece não assustar os gigantes do setor que têm planos ousados de crescimento. Ao que tudo indica, a guerra pelas salas de aula vai continuar.