As discussões entre o Conselho militar no poder no Sudão e os líderes dos protestos serão retomadas no domingo (19) em Cartum, onde os islamitas convocaram uma manifestação neste sábado (18) contra um possível abandono da xaria (lei islâmica).

Os representantes do movimento islâmico não fazem parte das forças políticas reagrupadas na Aliança pela Liberdade e Mudança (ALC), líder do movimento de protesto, que negocia com os militares para definir o período de transição após a queda do presidente Omar Al-Bashir, em 11 de abril.

“O conselho militar anuncia a retomada no domingo das discussões com a Aliança pela Liberdade e Mudança (ALC) no palácio presidencial”, informou o Exército.

Este último havia suspenso na quarta-feira o diálogo com os líderes dos protestos, pedindo o desmantelamento das barricadas instaladas em Cartum.

Na sexta-feira, os manifestantes removeram as barricadas, mas ameaçaram restabelecê-las se os generais não retomassem as negociações sobre a transferência de poder.

As duas partes devem agora chegar a um acordo sobre a composição de um Conselho Soberano, uma instituição chave para a transição. Os militares querem que este seja formado por uma maioria dos seus, enquanto a ALC exige que seja dominado por civis.

A comunidade internacional pediu na sexta a “retomada imediata de negociações” no Sudão para uma transição “realmente dirigida pelos civis”.

O secretário de Estado americano para a África, Tibor Nagy, reuniu representantes da União Africana (UA), da ONU e da União Europeia (UE) “para coordenar esforços para incentivar” as partes a chegar a um acordo o mais rapidamente possível sobre um governo interino “que seja o reflexo da vontade dos sudaneses”.

Composta por forças de tendência laica, que vão desde o Partido Comunista até os nacionalistas árabes, a ALC não inclui os islamitas que apoiaram o golpe de Estado de 1989 que levou Omar Al-Bashir ao poder.

Discretos desde 11 de abril, os islamitas convocaram uma manifestação em Cartum contra um possível abandono da xaria – requerida pela ALC -, e um processo político para transferir o poder aos civis.

Essas duas possibilidades abririam as “portas do inferno para o Sudão”, alertou um dos líderes islâmicos, que hoje se sentem marginalizados.

“Será uma mobilização contra a nova ditadura civil, porque a ALC roubou a revolução”, declarou à AFP Al Tayeb Mustafa, chefe de um grupo de cerca de 20 movimentos islâmicos.

O conselho militar criticou a ALC por não mencionar a xaria como base da legislação em suas propostas de transição.

A ALC considera esta questão secundária e estima que pode ser discutida após o período de transição.

O regime derrubado aplicava a lei islâmica, o que levou, segundo os defensores dos direitos humanos, a crimes como o açoitamento de mulheres por “comportamento indecente”.

Al-Bashir foi destituído e detido pelo Exército como resultado de um movimento de protesto iniciado em 19 de dezembro, devido à triplicação do preço do pão em um contexto de profunda crise econômica.