Diretora geral do Fundo Monetário Internacional (FMI), a francesa Christine Lagarde, pediu nesta quinta-feira (19) para que o ambiente global de comércio e investimentos, definidos como motores do crescimento, não sejam comprometidos.

Na abertura das reuniões de primavera (boreal) do Banco Mundial, ela explicou que “o crescimento está sendo impulsionado pelos investimentos e pelo comércio. Por que comprometer esses dois motores?”. Lagarde se refere às crescentes tensões comerciais, especialmente promovidas por Estados Unidos, que encontraram respostas firmes da China e da União Europeia (UE).

Mesmo no âmbito dos desacordos provocados pelas características das trocas comerciais, disse Lagarde, os países devem manter cautela para não quebrar um sistema até então funcional.

Em uma coletiva de imprensa no início das reuniões, em Washington, ela alertou que se as tensões comerciais entre EUA e China levarem a uma guerra generalizada de tarifas e barreiras, ninguém sairá vencedor.

Segundo Lagarde, um cenário de guerra comercial não afetará apenas as economias de Estados Unidos e China, mas “a todos os países”, já que o sistema é “interconectado”.

A mais alta executiva do FMI disse que o impacto direto de uma guerra comercial no crescimento econômico não é “substancial”, mas que provocaria uma “erosão generalizada da confiança”, que, por sua vez, teria consequências diretas nos investimentos.

Para Lagarde, “a cooperação internacional serviu muito bem durante muitos anos e permitiu mais progresso para as pessoas que em qualquer momento da história”. Contudo, esse cenário agora “está sendo questionado, especialmente no que se refere ao comércio.

– Horizonte nebuloso –

Lagarde elogiou as discussões entre Washington e Pequim para destravar as tensões comerciais, mas apontou que essas divergências devem ser resolvidas em “um fórum multilateral”.

A principal sugestão do FMI neste sentido, acrescentou, é que os países “devem manter distância das medidas protecionistas”.

Em seu mais recente Panorama Econômico Mundial, divulgado nesta terça-feira, o FMI destacou que a economia global terá um crescimento sólido neste ano e no próximo, mas a partir de 2019 as perspectivas se tornam mais incertas.

“Mesmo que o sol continue brilhando, há nuvens que já aparecem no horizonte”, afirmou.

A mais evidente entre as nuvens, apontou, é a perspectiva de uma guerra comercial.

Em março, o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, anunciou a decisão de adotar tarifas pesadas sobre a importação de aço e alumínio, além de impostos adicionais sobre os produtos chineses de até 50 bilhões de dólares.

Esses anúncios causaram uma onda mundial de incerteza. Diante das tarifas sobre aço e alumínio, China e UE imediatamente reagiram com ameaças de represálias a alguns produtos norte-americanos.

No entanto, diante da ameaça de sanções adicionais contra a China, Pequim respondeu com a possibilidade de taxar os produtos agrícolas americanos, particularmente a soja, aproximando-se assim do coração do comércio bilateral e um dos pilares do comércio mundial.

Nesta quinta-feira, Lagarde apontou que as “medidas unilaterais de protecionismo nunca foram úteis”.

A diretora do FMI também respaldou a ampla reforma fiscal adotada pelos Estados Unidos no fi do ano passado, que gerou grandes cortes de impostos a grandes empresas e fortunas. Ela alertou, contudo, para o risco do crescimento da dívida americana – atualmente de cerca de 164 trilhões de dólares.