Mesmo com as melhores peças no tabuleiro do jogo da economia verde nas mãos, Jair Bolsonaro está entregando a vitória ao seu mais ambicioso oponente: Joe Biden, presidente dos Estados Unidos. Neste campeonato que está longe de terminar, a mais recente partida aconteceu no dia 30 de julho com mais um xeque-mate a favor dos americanos. Naquela sexta-feira, John Kerry, enviado do governo federal dos EUA para o meio ambiente, se encontrou virtualmente com sete governadores do Brasil para conhecer o Portfólio de Projetos Brasileiros Sobre Mudanças Climáticas – conjunto de ações ambientais propostas pelas autoridades em busca de financiamento. Uma semana depois (quinta-feira, 5), houve o desdobramento com um encontro presencial do conselheiro de Segurança Nacional, Jake Sullivan, com os governadores da Amazônia Legal. Muito mais do que reuniões sobre o futuro do planeta, o aceite do governo federal da superpotência em falar diretamente com os estados brasileiros – em vez dos pares federais, como de praxe na diplomacia internacional – é um recado claro de que com ou sem Bolsonaro, Biden não medirá esforços para cumprir a promessa de campanha de “liderar o mundo no tratamento da emergência climática”.

A reunião com John Kerry articulada pela coalizão Governadores pelo Clima é mais uma derrota política para Bolsonaro. Internamente, sua postura antiambiental abre espaço para que os representantes dos estados avancem em um campo diplomático onde quase não tinham presença. “Ao se estruturarem, os governadores fizeram os Estados Unidos enxergarem sua autonomia e capacidade de avanço na agenda”, afirmou o advogado de Direito Ambiental Alessandro Azzoni. Dessa forma, avalia o analista de acordos internacionais em meio ambiente da Fundação Esquel Brasil, Rubens Born, ganham capital político junto a financiadores do ESG (ambiental, social e de governança). “Ainda que a reunião tenha componente político forte, ela pode de fato criar projetos de cooperação e iniciativas relevantes”, disse. Externamente, a reunião reforça o que o mundo já sabe. “O governo Bolsonaro tem a liderança global no retrocesso ambiental”, afirmou Born.

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“Os governadores vão trabalhar para melhorar a imagem internacional do Brasil na agenda ambiental” Renato Casagrande governador ES.

O PLANO Os governadores, porém, entenderam a força do capital nesta nova economia que já movimenta US$ 31 trilhões ao ano, segundo a Global Sustainable Investment Alliance. Para tentar entrar neste clube, investiram em governança. O documento apresentado a Kerry na reunião comandada pelo governador do Espírito Santo e líder da coalizão, Renato Casagrande, trouxe 65 páginas com projetos ambientais para todas as regiões do País e para a Amazônia Legal, além da proposta de criação de um consórcio público que administrará o fundo a ser criado com os recursos angariados. Em cada projeto, breve linhas sobre do que se trata e os benefícios econômicos e sócioambientais. Simples e estruturado.

Tudo isso sem participação do Planalto, como disse à DINHEIRO o governador Casagrande. “Não queremos substituir o governo federal”, afirmou. “Mas os governadores vão trabalhar para melhorar a imagem internacional do Brasil na agenda ambiental”. Para isso, precisam de ajuda. Marcos Penido, secretário de Infraestrutura e Meio Ambiente do Estado de São Paulo, é um dos que engrossam a tese. “Estamos cientes que é preciso cooperação internacional para seguir em direção às metas de modo a substituir com segurança os combustíveis fósseis”, disse.

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“O governo Bolsonaro tem a liderança global no retrocesso ambiental” Rubens Born Fundação Esquel Brasil.

Com o discurso alinhado, o próximo passo na agenda dos governadores é montar a primeira reunião de trabalho com Jonathan Pershing, conselheiro de clima e política externa da equipe de Kerry, que tocará o avanço do assunto junto a Washington. Já a agenda de Brasília parece paralisada, o que já seria ruim, mas com a aproximação da Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (Cop 26) a ser realizada em novembro, torna-se ainda mais vexatório para Bolsonaro.