“Desonesto”, “fraco”, mas agora também “profundamente unidos”: entre as ofensas lançadas pelo presidente americano, Donald Trump, e as fortes tensões comerciais, Estados Unidos, Canadá e México comemoraram nesta quarta-feira (13) uma vitória diplomática conjunta ao conquistar o direito de organizar o Mundial de 2026.

Tarifas alfandegárias, ameaças de contra-tarifas, acusações de “traição”, negociações acaloradas sobre o Tratado Norte-Americano de Livre Comércio (Nafta)… Os três vizinhos vivem há semanas um verdadeiro drama comercial, nas palavras do chefe da diplomacia canadense, se referindo às ameaças econômicas ao Canadá por parte de Trump, o polêmico presidente dos Estados Unidos.

A situação tensa não impediu que seus líderes comemorassem no Twitter a “vitória” contra o Marrocos, apesar de nem Estados Unidos nem Canadá terem se classificado para a Copa do Mundo da Rússia 2018.

Há muito em jogo nesse evento de grande audiência mundial. A receita é suculenta para a primeira Copa do Mundo com 48 seleções, em comparação com as 32 atuais. O trio prometeu “o Mundial mais lucrativo da história”, com mais de 10 bilhões de dólares de receita.

– Pyongyang por Rabat –

Restrições de vistos, insultos para se referir aos países africanos, brigas com seus aliados europeus: após um ano e meio de Trump na Casa Branca, a candidatura United 2026 chegou a temer que a votação dessa quarta-feira se transformasse em um referendo “a favor ou contra” o presidente americano.

Principalmente desde que Trump se envolveu pessoalmente na campanha, ameaçando diretamente em abril aqueles que não votassem a favor de sua escolha. “Seria uma pena se os países que apoiamos em todas as circunstâncias fizessem campanha contra a proposta dos Estados Unidos, porque apoiaríamos esses países quando não nos apoiam (incluindo a ONU)?.

O presidente da federação norte-americana, Carlos Cordeiro, declarou antes da votação a necessidade de julgar a candidatura United 2026 por “seus méritos” e não por questões de “geopolítica”.

Segundo o jornal The New York Times, Trump teria enviado três cartas para o presidente da Fifa, Gianni Infantino, assegurando que suas diretrizes sobre a concessão de vistos “não se aplicariam a Copa do Mundo”.

A votação finalmente foi clara: 134 para a chapa Estados Unidos-Canadá-México, 65 para o Marrocos. Uma curiosidade típica da complexa diplomacia do futebol, é que no dia seguinte ao histórico encontro entre Trump e Kim Jong-Un, a Coreia do Norte tenha votado pelo Marrocos.

– “Aprender a lição” –

“Os Estados Unidos, junto com México e Canadá, acabam de ganhar como sede da Copa. Parabéns. Trabalhamos duro para isso”, disse Donald Trump. Já o Primeiro-ministro do Canadá, Justin Trudeau comemorou as “boas notícias” e previu “um grande torneio!”.

O presidente do México, Enrique Peña Nieto, foi mais longe em um momento de comemoração de sua união. “Não só é nossa gente e nossas famílias, não são só nossos negócios e comerciantes, e sim também o futebol que sabe que Canadá, Estados Unidos e México estão profundamente unidos”.

Nas ruas do México, algumas pessoas estavam decepcionadas que os Estados Unidos ganhe a maior parte do evento: 60 dos 80 jogos e todas as partidas a partir das quartas de final.

“Não é muito”, disse Roberto Rodríguez, vendedor ambulante de setenta anos que vende camisetas verdes e brancas da seleção mexicana.

Para Juan Luna, outro vendedor de 66 anos, não é hora para tensões diplomáticas. “O esporte é uma coisa, a política é outra”.