O setor de planos de saúde sentiu na pele os efeitos da recessão econômica no ano passado. Com a disparada do desemprego, que superou a marca de 12 milhões de pessoas, 1,4 milhão de trabalhadores perderam a assistência médica em 2016, retração de 2,8%. Apesar do ambiente de dificuldades, houve quem olhasse o mercado com otimismo. É o caso da britânica Bupa, a maior operadora do Reino Unido com receita de US$ 12,4 bilhões. A companhia adquiriu a brasileira Care Plus, líder no segmento premium, de olho na reação da economia e, principalmente, nos consumidores de alta renda dispostos a pagar R$ 1,6 mil mensais por planos com cobertura internacional. A operadora não revelou a quantia paga pela Care Plus, cujo faturamento foi de R$ 700 milhões ano passado.

De acordo com Moses Dodo, diretor geral da Bupa para a América Latina, a empresa decidiu apostar com calma no mercado brasileiro. “Estamos de olho no Brasil faz tempo e enxergamos esse como o melhor momento para entrar”, diz Dodo. “O investimento trata-se de um passo pequeno diante da ambição que temos no País.” A Care Plus, que terá seu nome mantido, possui 100 mil beneficiários e continuará sendo comandada pelo fundador Roberto Lagana Pinto. A ideia inicial é captar clientes que exigem serviços cada vez mais personalizados e com demandas para fora do Brasil.

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A partir do segundo semestre, a empresa passará a comercializar planos internacionais – ou seja, o paciente poderá ser atendido nos melhores hospitais do País ou em qualquer um dos 190 países em que a Bupa atua. “Mesmo morando fora, os brasileiros voltam para cá para ser atendidos em locais como Albert Einstein e Sírio-Libanês”, diz Dodo. Para o diretor geral, os clientes em potencial são executivos de multinacionais e expatriados, além dos atuais beneficiários da própria Care Plus, que ainda não tinham acesso a esse tipo de cobertura. O preço médio do plano internacional, que será o mais elevado, é de cerca de US$ 500. “Esse público costuma dar muita importância para a saúde e não deixa de investir em planos nem com a crise”, afirma José Cechin, diretor executivo da Federação Nacional de Saúde Suplementar (FenaSaúde).

Com essa estratégia, a Bupa prevê crescer 25% ao ano no Brasil e ultrapassar a subsidiária mexicana, a maior da América Latina, no fim de 2017. A partir daí, novas aquisições e mudanças do modelo de negócio podem surgir, segundo ele. Em países como o Chile e Inglaterra, a Bupa possui uma operação verticalizada e diversificada, com hospitais e clínicas particulares abertas para todas as classes sociais. Esta primeira experiência no Brasil será fundamental para saber se essa estratégia será algo possível por aqui. “Primeiro, precisamos aprender o Brasil, que não é algo tão simples”, diz Dodo.