Ter muito dinheiro é o chamado bom problema, mas não deixa de ser um problema. Ironias à parte, alocar quantias elevadas de maneira eficiente costuma ser trabalhoso. É necessário diversificar e gerenciar cuidadosamente os riscos para preservar o patrimônio no longo prazo. Esse é o desafio dos chamados fundos soberanos, gigantes dos investimentos que administram os recursos trilionários dos países. E uma das soluções é o mercado brasileiro.

Em meados de maio, autoridades brasileiras realizaram uma apresentação em Nova York para gestores de alguns dos fundos soberanos mais tradicionais, como os de Abu Dhabi (US$ 1,17 trilhão) e o GIC, de Cingapura (US$ 744 bilhões). No foco, investimentos em infraestrutura, em especial concessões de aeroportos e rodovias. “O Brasil se tornou um dos países emergentes mais interessantes para os fundos soberanos” afirmou o gestor de recursos e um dos fundadores da holding financeira Integral, Vitor Bidetti. Para ele, os fundos soberanos deverão, discretamente, ampliar seus investimentos por aqui nos próximos anos.

“O Brasil se tornou um dos países emergentes mais interessantes para os fundos soberanos, que têm mandatos para administrar o dinheiro por décadas” Vitor Bidetti, fundador da Integral. (Crédito:Mario Miranda Filho)

A explicação é simples. A quantia de US$ 100 milhões é respeitável em qualquer latitude. No entanto, é pouco dinheiro para o gestor de um fundo soberano com centenas de bilhões de dólares para gerir. “Negócios inferiores a– essa cifra não fazem sentido para esses fundos, pois influenciam muito pouco no resultado final”, disse Bidetti. E é aí que o Brasil se diferencia. Apesar de haver vários países emergentes com economias mais dinâmicas, os investimentos disponíveis são pequenos demais para fazer diferença na rentabilidade.

A participação dos soberanos oferece duas vantagens: bolsos fundos e ausência de pressa. “Os gestores desses fundos têm mandatos para administrar dinheiro de modo a durar por gerações”, disse o gestor. O Brasil, como todo país emergente com economia de commodities, é sujeito a solavancos periódicos que podem assustar quem tem pressa. “No caso dos soberanos, que pensam em décadas ou mesmo séculos, um ou dois anos de desempenho ruim é esperado e faz parte do processo”, afirmou Bidetti. “Nenhum gestor se assusta com um soluço na demanda.” Segundo o gestor, o investimento ideal é o capaz de gerar renda no longo prazo. “A taxa de juros real brasileira deverá permanecer positiva durante um período longo, o país oferece estabilidade social e jurídica”, disse ele. “É tudo o que esses fundos desejam.”

US$ 32 trilhões é o patrimônio total dos fundos soberanos e dos fundos de pensão estatais

GIGANTES Os fundos soberanos têm apresentado um desempenho muito positivo. Segundo estimativas do instituto especializado SWF Global, o patrimônio total dos 81 fundos registrados somava US$ 10,5 trilhões no fim de 2021, um crescimento de 6,1% em dólares no ano passado, graças ao bom desempenho dos mercados acionários e à alta dos preços do petróleo. Para comparar, o patrimônio equivale a quase sete vezes o Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro. E, segundo as estatísticas dos SWF, os fundos de pensão estatais – que têm diretrizes de investimento semelhantes às dos soberanos – somam US$ 21,4 trilhões. Total: US$ 32 trilhões. Mesmo que apenas uma fração desse manancial de recursos chegue aqui, será suficiente para sustentar todo um ciclo de investimentos, afirmou Bidetti.