Antes visto com desconfiança pelos bancos, o agronegócio brasileiro entrou na mira dos investidores internacionais. As razões são claras. Apesar de os países serem bastante protecionistas quando o assunto é alimentar o povo, as vantagens competitivas brasileiras são imbatíveis. “O Brasil possui água, terra, sol e gente, tudo o que o agronegócio precisa para funcionar bem”, disse o fundador e presidente da gestora de fundos de private equity Aqua Capital, Sebastián Popik. “Isso facilita a atração de recursos internacionais para financiar o setor.”

Fundado em 2009 e com um patrimônio de US$ 650 milhões captado junto a investidores internacionais de longo prazo, o Aqua investe em empresas de médio porte do agronegócio. Hoje, o fundo tem participações em 30 companhias, que em conjunto empregam 6 mil pessoas e faturaram R$ 5 bilhões no ano passado. Sua tese de investimento é impulsionar empresas familiares, cujos fundadores se mantêm na operação, a se tornarem empresas maduras de alto desempenho, por meio da combinação de tecnologia e gestão, acelerando o crescimento de maneira orgânica e também por meio de aquisições.

Segundo Popik, a crise provocada pela pandemia do coronavírus aumentou o interesse dos investidores internacionais pelas atividades no Brasil. “Com a crise, algumas cadeias de suprimentos foram prejudicadas, o que mostrou a necessidade de os principais mercados consumidores garantirem a oferta de alimentos”, disse ele.

Tradicionalmente, os países protegem esses mercados. O melhor exemplo é a agricultura europeia, que depende de subsídios pesados. No entanto, o crescimento da população e a redução da oferta das terras agrícolas encarece a produção e torna o agronegócio brasileiro mais competitivo. É nesse movimento que os investidores estão interessados. Um bom exemplo é a consolidação da Agrogalaxy, holding que concentra empresas de distribuição de insumos controladas pelo Aqua. A holding reúne cinco revendas com faturamento anual de mais de R$ 3,3 bilhões.

Movimentos como esse abrem espaço para um financiamento mais eficaz da produção. Cerca de 80% do crédito disponível para a agricultura brasileira vem do Plano Safra. Só recentemente os líderes setoriais conseguiram acesso ao mercado de capitais, seja por meio de instrumentos tradicionais como a emissão de ações ou títulos de renda fixa, seja pela securitização de recebíveis. Há um espaço para novos participantes. “Podemos atuar fazendo a ponte entre bons fornecedores de crédito e tomadores de crédito com um bom perfil de risco”, disse Popik. “Há várias soluções, fintechs e outras alternativas surgindo para atender o agronegócio.”

30 companhias, que empregam 6 mil pessoas e faturaram R$ 5 bilhões em 2019, receberam recursosdo aqua capital.