A conjunção da queda dos juros, da disseminação da conectividade e da crise provocada pela pandemia criou o cenário ideal para a explosão nas buscas por informações financeiras e no número de profissionais que fazem recomendações pela rede mundial. Dados recentes do Google Trends mostram que nos últimos cinco anos as buscas por conhecimentos financeiros quadruplicaram no YouTube. Com a internet virando uma grande porta de acesso ao mundo das finanças, o influenciador digital se tornou tão popular que exigiu uma profissionalização. Assim, os vídeos feitos em casa, tendo ao fundo os latidos do cachorro do vizinho, começam a ganhar uma nova roupagem. O negócio de inteligência financeira está ganhando ares de superprodução hollywoodiana. Corretoras e startups se preparam para essa nova etapa virtual, com o lançamento de serviços de streamings completamente dedicados ao mundo dos investimentos. E esse “Netflix do Dinheiro” promete ser um sucesso de público.

Em agosto serão lançados dois serviços de streaming. A Guide Investimentos, uma das maiores corretoras do Brasil, terá sua própria plataforma para oferecer conteúdos sobre educação financeira e análises do mercado. A assinatura custará R$ 39,90 por mês. De acordo com a diretora da Guide e responsável pelo projeto, Loni Batist, quem já investe pela corretora terá um período de “degustação”, com acesso franqueado em um primeiro momento. O plano é chegar a 200 mil assinantes até o fim de 2022. Batist conta que o novo serviço é uma evolução da plataforma de informações Guia Financeiro. Criada em 2018, ela surgiu como um blog com recomendação de carteiras de ações para os clientes, elaborado pelos analistas e pelo time de marketing da casa. Com o tempo, foi mudando e chega agora ao patamar de streaming. “Os clientes estão ávidos por informações mais estruturadas, pois perceberam que a forma anterior de se investir não funciona mais”, disse. “Queremos ser a solução para quem busca um aprendizado claro, flexível e com custo fixo.” Haverá vídeos, textos e podcasts para públicos com diferentes níveis de conhecimento.

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“O brasileiro é um usuário intensivo de sistemas de streaming e está adaptado a essas plataformas” Olivia Alonso, CEO da Monett.

Criada por profissionais da área financeira, de tecnologia, audiovisual e marketing, a startup Monett tem como missão fazer os assinantes se apaixonarem por investimentos. A meta da empresa é conquistar 1 milhão de usuários em até cinco anos. Uma assinatura mensal garantirá acesso ao entretenimento com uma pegada de investimentos, com filmes, minisséries, cursos, podcasts e pílulas de educação financeira, disse a CEO da Monett, Olivia Alonso.

O streaming reunirá também recomendações de investimentos por meio de tecnologias intuitivas, que guiarão o investidor. “O brasileiro é um usuário intensivo de sistemas de streaming e está adaptado a essas plataformas”, afirmou Olivia. Para ela, por muitos anos os analistas não tinham foco na pessoa física, o que abriu espaço para os influenciadores, que eram mais acessíveis na linguagem. “Agora queremos dar uma informação com maior profundidade, pegando na mão dessa pessoa que começou a investir para que ela se sinta confortável para tomar decisões.”

15 Filmes já estão em produção pela Monett

SUPERPRODUÇÕES Para chegar a esse resultado, a empresa fez imersão nas técnicas cinematográficas, a fim de produzir conteúdos com qualidade de cinema, sem esquecer a informação de qualidade. “Hoje, com nossa expertise, entregamos informação com um formato mais atraente, assinado por analistas certificados, com conteúdos que agreguem valor ao usuário.” O que pode ser feito por drama, comédia ou até suspense.

INFORMAÇÃO DE QUALIDADE Segundo Loni Batist, da Guide, investidor agora busca orientação mais aprofundada que a dos influenciadores digitais. (Crédito:Felipe Perazzolo)

O investimento no novo serviço foi feito pelos oito sócios mais oito investidores anjos e sustentará a operação por dois anos. Isso incluirá a produção de filmes com roteiristas, e equipe de audiovisual, além de contratos com produtoras parceiras. Mais de 15 filmes já estão em produção, depois começarão a ser vendidas assinaturas. Mas a executiva não descarta uma rodada de captação de recursos no mercado para elevar o nível do conhecimento financeiro entre os brasileiros. Segundo ela, apesar do salto no número de investidores na bolsa (só em 2020 cresceu quase 90%), muitos ainda não participam do mercado de ações. “O trabalho dos influenciadores foi importantíssimo para sair do zero. Mas agora tem de avançar mais”, disse.