PAPÉIS AVULSOS
Chuvas e trovoadas

DESCARGA ELÉTRICA: Justiça quase impede pagamento de R$ 359 MILHÕES em dividendos aos acionistas da Eletropaulo

Um raio dificilmente atinge o mesmo lugar duas vezes. Mas se o local for o seu bolso, tome cuidado: dois raios idênticos podem atingi-lo em momentos diferentes. Foi mais ou menos o que aconteceu na semana passada para os investidores em ações da Eletropaulo e da CSN. Brigas de ordem tributária envolvendo as duas empresas entraram no caminho dos seus acionistas, interferindo no pagamento de dividendos. Na segunda-feira, as ações preferenciais da Eletropaulo fecharam em queda de 4,95%, depois que a Justiça paulista mandou suspender a distribuição de R$ 359 milhões em dividendos para garantir o pagamento da Cofins sobre operações de 1992 a 1999. O pior inimigo do investidor é a ignorância. “O mercado não sabia desse problema da Eletropaulo. Foi pego de surpresa”, diz Mônica Araújo, analista da corretora Ativa. “As ações da empresa foram afetadas porque a política de dividendos do setor elétrico é significativa.” A companhia conseguiu liberar os dividendos na quarta, mas o estrago já havia sido causado. Quem vendeu, perdeu. No caso da CSN, a suspensão judicial do pagamento de R$ 160 milhões não afetou o papel. Quem se assustou e vendeu, também perdeu. Fica a lição: antes de investir em ações, é preciso vasculhar todas as informações a respeito da companhia. E, mesmo assim, cruzar os dedos para não sair chamuscado.

DESTAQUE NO PREGÃO

O valor do minoritário

Mais uma vez, os analistas de investimento dos bancos estrangeiros conseguem derrubar as cotações de uma companhia no Brasil. Depois da Parmalat e da Kroton Educacional, foi a vez de a Construtora Tenda, que atua no mercado imobiliário de baixa renda, sofrer com relatórios negativos. A empresa assistiu seus papéis despencarem 42% na Bolsa em uma semana, até a quinta-feira 28. O Crédit Suisse rebaixou o preço-alvo da ação de R$ 21 para R$ 7. O Goldman Sachs reviu de R$ 15,60 para R$ 7,40. Os analistas reagiram aos resultados abaixo do esperado no segundo trimestre e a uma possível dificuldade de captação de recursos pelo Sistema Financeiro da Habitação (SFH), que deixaria a empresa com dificuldades financeiras para executar as obras. Apesar de não estar alavancado, o caixa líquido da Tenda baixou de R$ 215 milhões no final do primeiro trimestre para R$ 97 milhões no segundo.
 

“PETRO-SAL”

Será ela a culpada?

O debate sobre a Petrobrás e a camada pré-sal bateu na bolsa. Além da possível criação da “Petro-sal”, investidores se assustam com a diminuição dos negócios com ações da Petrobras, que coincide com a redução no volume negociado na BM&F Bovespa, presidida por Edemir Pinto. Em maio, a ação PETR4 movimentou R$ 23 bilhões. Em agosto, até o dia 27, só R$ 12 bilhões.A média diária da Bolsa, no mesmo período, caiu de R$ 7 bilhões para R$ 4,8 bilhões. André Segadilha, chefe de análise da Prosper, não acredita na relação entre ambos os dados. “Há um movimento geral de aversão ao risco, não só no Brasil como em todo o mundo”, diz.

PALAVRA DE ANALISTA

O pânico com o futuro da Tenda provocou recordes de negociação das suas ações. De R$ 4 milhões por dia, o volume chegou a R$ 35 milhões na quinta 28. Um dos maiores problemas está dentro de casa. A política de comunicação ficou aquém do esperado na apresentação dos resultados. Causou estranheza a falta de uma resposta oficial aos relatórios dos bancos. Neste semestre, a expectativa com o setor é pessimista. Inflação, juro em alta e linhas menores de financiamento são três fatores que estarão presentes no dia-a-dia. “Sem financiamento, as companhias não conseguem fazer o capital de giro”, diz Eduardo Silveira, analista da Fator Corretora.
 

QUEM VEM LÁ
Eles querem a sua atenção

Índices que utilizam a capitalização de mercado são um padrão internacional para as bolsas. No Brasil é diferente. O Ibovespa leva em consideração a liquidez das ações para fazer a composição da sua carteira. A BM&F Bovespa não quer mudar essa característica, mas a partir desta semana passa a contar com dois novos índices que utilizam a capitalização de mercado como referência. O MLCX, com as grandes empresas (MidLarge Cap), tem 69 ações. E o SMLL, das empresas menores (Small Cap), traz 71. Gigantes e anões da bolsa irão, agora, brigar pela sua atenção. Fundos de investimento poderão ser montados com base nesses novos benchmarks. “O objetivo foi criar novos índices com negócios em diferentes setores da economia e bem distribuídos”, diz Murilo Robotton Filho, diretor-executivo de Produtos da BM&F Bovespa.
FIQUE DE OLHO: as empresas emissoras de Brazilian Depository Receipts (BDRs), em recuperação judicial ou com falência decretada, não poderão participar dos novos índices.
 

TOURO X URSO

Os olhos do touro estão voltados para a economia dos Estados Unidos, que surpreendeu e cresceu 3,3% entre abril e junho e animou os investidores na semana passada. Os prognósticos para o restante do ano não são muito animadores, mas qualquer notícia que diminua o pessimismo com a saúde financeira dos bancos globais, especialmente americanos e europeus, pode ajudar as bolsas nesta semana.
As garras do urso estão afiadas e esperam novos sinais de endurecimento na política monetária do Banco Central para forçar novas baixas no mercado de ações brasileiro. Atenção à reação de Henrique Meirelles e seus colegas no Copom aos fartos números do crédito. Os financiamentos não param de crescer – sinal de economia estimulada – e, apesar da deflação do IGP-M, as pressões inflacionárias ainda incomodam o BC.

EDUCAÇÃO FINANCEIRA

O mercado de opções não é para amadores. O alerta é de Luiz Maurício da Silva, autor do livro “Mercado de Opções: conceitos e estratégias” (Halip Editora). O livro compila 119 estratégias com opções. Os lucros podem ser fabulosos, mas os prejuízos, também. “O investidor não pode ser ganancioso. Deve estabelecer uma margem de lucro e outra de perda”, diz Silva.

MERCADO EM NÚMEROS
TELEMAR
R$ 3,9 bilhões
em dividendos extraordinários serão pagos pela Telemar a partir de 19 de setembro.

GERDAU
R$ 280 milhões
é o valor que a Gerdau irá pagar para comprar cotas de capital social do Grupo Gerdau que estão em poder da Açominas.

EQUATORIAL ENERGIA
10% de reajuste
foi autorizado pela Anatel para a Equatorial Energia aumentar as tarifas da Companhia Energética do Maranhão (Cemar).

VIVO
4 para 1
foi a proposta de grupamento de ações feita pelo conselho de administração da Vivo. A aprovação acontecerá após votação da assembléia- geral extraordinária.

KLABIN SEGALL
90% de alta
foi quanto a Redecard registrou no credenciamento de novos estabelecimentos, em julho. O expressivo crescimento ocorreu após a implementação de parcerias com o Bradesco, o Banco do Brasil e o Real.

BOMBRIL
R$ 11,5 milhões
é o preço que a Bombril pagou para comprar a Lysoform, empresa cujo faturamento anual é de R$ 12 milhões. O dinheiro para o negócio foi 100% financiado por instituições financeiras.

PERSONAGEM
O drama da Rossi

“A empresa é a mesma, não mudou nada”
LEONARDO DINIZ, diretor de RI da Rossi
 

ARossi Residencial vive um momento ímpar. No começo do ano, promoveu um split (divisão) das ações para dar mais liquidez, mas as cotações desabaram depois dos resultados do primeiro trimestre. Alguns indicadores negativos, como o número de lançamentos, fizeram o investidor se desfazer dos papéis da incorporadora, que viveu períodos de bonança na Bolsa, com retornos que chegaram a 380% (2005) e 67,4% (2007). A explicação da empresa é que a adoção das novas práticas contábeis internacionais (Lei 11.638/07) modificou a forma de apresentar os números e cegou momentaneamente o investidor. Apesar de o segundo trimestre ter sido melhor, a ação continuava em baixa de 54% até quinta 28. Leonardo Diniz, diretor de Relações com o Investidor, falou à DINHEIRO:

DINHEIRO – A política contábil explica os resultados?
DINIZ – Sim. Seguimos a legislação. Em janeiro de 2010, todos vão precisar se adequar. A Rossi se antecipou, assim como outras empresas. Mas demoramos em explicar o que faríamos com o balanço e o mercado não entendeu.

DINHEIRO – O novo padrão piora os números?
DINIZ – Não é uma questão de pior ou melhor. Em alguns quesitos, ele melhora as margens. Em outros, piora. O que muda é o critério de contabilização.

DINHEIRO – A ação continua afetada pelo balanço?
DINIZ – Basicamente, pelo resultado do primeiro trimestre. Houve confusão. Cumprimos nossas metas estabelecidas desde 2006 e sempre com lucratividade e rentabilidade. Estamos tranqüilos quanto à nossa estratégia. A empresa é a mesma, não mudou nada.

DINHEIRO – E por que a acão tem um dos piores desempenhos no ano na Bolsa?
DINIZ – O mercado é difícil. A tendência é avaliar os setores por trimestre. O ciclo do nosso produto é longo, em média de dois, três anos. Corre-se o risco de uma análise precipitada. O primeiro trimestre é o mais fraco para o setor imobiliário e não influencia o desempenho do ano. O primeiro semestre já mostrou novos números e o segundo semestre será melhor.

DINHEIRO – Há planos de aquisições?
DINIZ – Nossa estratégia é crescer com parcerias locais, que agregam muito.

DINHEIRO – O setor imobiliário vai passar pela consolidação?
DINIZ – Pode acontecer. Mas não digo que seja uma tendência do setor. O mercado é grande e essa é apenas uma das possibilidades.
 

PELO MUNDO
SUBPRIME NO CRÉDIT

O Crédit Agricole, terceiro maior banco da França, anunciou que o lucro no segundo trimestre caiu 94% depois de lançar a prejuízo ativos de ? 1,1 bilhão afetados pela crise do subprime nos Estados Unidos. O banco de Georges Pauget já contabilizou perdas de ? 6,5 bilhões por conta do estouro da bolha imobiliária americana. No trimestre, o lucro ficou em ? 76 milhões.

O CAIXA DA TATA

Concorrente da Vale no mercado mundial de aço, a Tata Steel, maior siderúrgica da Índia, registrou aumento de 60,5% no lucro líquido do primeiro trimestre fiscal. Uma parte desse resultado, que colocou em caixa US$ 892 milhões, pode ser atribuído à compra da empresa britânica Corus.
GUERRA AJUDA A BOEING

As ações da combalida Boeing subiram 4,25% na semana passada, até quinta-feira, depois da assinatura de um contrato de US$ 4,3 bilhões com as forças armadas americanas.

FREIO NA TOYOTA

Nem mesmo a Toyota escapou da desaceleração do setor automotivo nos EUA e na Europa. Considerando a situação econômica e a alta do petróleo, a japonesa reduziu sua meta de vendas para 9 milhões de veículos em 2009. O corte foi de 700 mil unidades. As ações subiram 0,8% em Nova York, na quinta-feira.