PAPÉIS AVULSOS
Minoritários ficam a ver navios

“O acionista minoritário gosta disso (tag along) porque é um ganho fácil “
LUIZ LEONARDO CANTIDIANO, ex-presidente da CVM

Se você nunca ouviu falar em “aquisição originária de controle” e é acionista da Construtora Tenda, provavelmente ficou a ver navios. Em vez de receber do comprador da Tenda, a Gafisa, o mesmo preço pago pelas ações do controlador – o chamado direito de tag along -, você não irá levar nem um tostão. Isso porque a operação (veja reportagem à página 48) usou um modelo jurídico conhecido como “aquisição originária”, em que o novo controlador assume o comando dos negócios sem ter comprado o timão de ninguém. Em tese, não houve venda da Tenda no sentido previsto pelo regulamento do Novo Mercado (alienação de controle). O que houve, na prática, foi um aumento de capital que diluiu a participação de todos os acionistas. Os controladores, que antes tinham 51%, passam a deter 20%. E os minoritários passaram de 49% para 19%. Com a má notícia, as ações da Tenda caíram 35% em dois dias. Pelo menos o infortúnio dos minoritários foi o mesmo dos ex-controladores, que continuam na empresa como acionistas. Na alegria ou na tristeza, a sociedade em bolsa é como um casamento. Por mais que as regras sejam bem definidas, sempre pode haver surpresas. Os minoritários que gostam do tag along “porque é um ganho fácil”, como lembrou o ex-presidente da Comissão de Valores Mobiliários Luiz Leonardo Cantidiano, terão de se adaptar à novidade. Melhor botar as barbas de molho.

DESTAQUE NO PREGÃO
Lojas Renner quer ser líder

A empresa gaúcha acaba de fechar seu maior negócio do ano. A aquisição da varejista Leader, por R$ 670 milhões, proporcionará a Lojas Renner um novo e crescente mercado: a classe D. “São pessoas que saíram do nível de sobrevivência básico, foram beneficiadas por programas sociais e conquistaram um bom aumento de renda”, disse à DINHEIRO José Galló, presidente da Lojas Renner. Ou a empresa criava uma rede para explorar esse mercado, ou comprava alguma já existente. Optou pela segunda opção. “A Leader não vai tirar nossos clientes”, diz. O presidente não quis dar expectativas de aumento de lucro ou Ebtida, mas garantiu que a aquisição impactará de maneira positiva os resultados da Lojas Renner no médio e longo prazo. As duas empresas juntas formam a maior rede varejista com cartão próprio do Brasil.

PALAVRA DE ANALISTA

A aquisição da Leader foi considerada pelos analistas de mercado como uma tacada de mestre da Lojas Renner. Os R$ 670 milhões pagos estão abaixo do esperado em uma negociação desse porte. O ponto negativo é o endividamento: 1,6 vez o Ebtida, um pouco acima da média de 1,5 vez do setor. O maior atrativo é a sinergia com as lojas voltadas para o público de baixo poder aquisitivo. “O negócio está em linha com os planos de negócio da Renner”, diz Kelly Cristina, analista da SLW. Antes da operação, a indicação para o papel era de compra, com preço-alvo de R$ 43,70 (em revisão). A Banif Securities recomenda a compra, com preço alvo de R$ 47.
 

TELEFONIA
O impacto da portabilidade

Portátil por excelência, o telefone celular ganhou mais um atributo: a portabilidade do número. Agora, você pode trocar de operadora e levar seu número antigo, o que derruba uma das maiores barreiras à perda de clientes das companhias. Vale o mesmo para o telefone fixo. A concorrência no setor vai aumentar como nunca. Quem ganha e quem perde nesse novo cenário? A analista-chefe da Ativa Corretora, Luciana Leocádio, acha que a GVT tem grande potencial de crescimento. E a Net também vai crescer. Na telefonia móvel, a briga entre as quatro grandes – Tim, Oi, Vivo e Claro – será ferrenha. “Todas perdem em maior ou menor grau, pois podem ter custos maiores e margens menores”, prevê.

QUEM VEM LÁ
Quer ser sócio da Luiza?

A empresária Luiza Trajano está de olho em você. Não como consumidor do Magazine Luiza, mas como acionista. Dona Luiza, que se prepara para abrir 50 lojas em São Paulo num único dia, quer também reforçar o caixa da companhia para financiar os investimentos em expansão a partir de 2009. Com isso, poderá lançar ações na bolsa de valores, caso o mercado assim o permita. O projeto está na gaveta, prontinho. “Depois de abrirmos as lojas em São Paulo, vamos avaliar como iremos nos capitalizar”, afirmou Luiza, na quarta-feira 4.

FIQUE DE OLHO: a investida na capital vai mostrar se a rede tem fôlego para concorrer no mercado mais acirrado do País.
 

TOURO X URSO

O livro Bege do Federal Reserve (Fed, o Banco Central americano) derrubou as bolsas mundiais na semana passada. Nesta semana, a reunião do Copom nos dias 9 e 10 poderá ter um efeito contrário para a Bovespa. Com os indicadores de inflação cedendo às pressões nas últimas semanas, é possível que os diretores do BC subam a taxa Selic, mas indiquem o fim das nuvens negras no horizonte. Na quarta 10 será conhecido o PIB do segundo trimestre.
Se as notícias parecem ser boas no mercado interno, as preocupações continuam no cenário internacional. Os Estados Unidos continuam monitorando semana a semana os índices de crédito e consumo ligados ao setor imobiliário. De segunda a quarta-feira, os índices de empréstimo ao consumidor, venda de imóveis e refinanciamento de hipotecas serão divulgados. Na quinta, é a vez da balança comercial americana e das contas do governo Bush.

EDUCAÇÃO FINANCEIRA

Mas se a tendência de baixa na bolsa o assusta, aproveite os momentos de forte oscilação para investir nos estudos. “A falta de estratégia é que faz o investidor perder dinheiro”, afirma o consultor financeiro Ricardo Melo. Por isso, dedique um tempo para criar a base da sua educação financeira, recomenda o especialista. E lembre-se: o maior inimigo do investidor é a pressa de ficar rico.
 

MERCADO EM NÚMEROS

SADIA

R$ 308 milhões
é o investimento que a Sadia fará na sua nova fábrica em Mato Grosso. Na primeira fase da ampliação, foram aportados R$ 800 milhões.

BRADESCO

R$ 325 milhões
foi o investimento do Bradesco, através da subsidiária Bradesplan, para se tornar sócio da Votorantim Investimentos Latino- Americanos.

AGRENCO

R$ 2,4 bilhões
era o total do passivo da Agrenco em junho, sendo R$ 682 milhões de dívidas de curto prazo.

VOTORANTIM

R$ 67 milhões
foi o valor da venda de 40% da joint venture que a Votorantim Celulose e Papel (VCP) mantinha com a finlandesa Ahlstrom na produção de papéis.

TELEMAR NORTE LESTE

R$ 1,2 bilhão
vai pagar em dividendos a Telemar Norte Leste. A empresa pagará dividendos extraordinários de R$ 15,54 por ação ON, R$ 17,10 por ação PNA e R$ 3,11 por ação PNB.

LAEP

R$ 50 milhões
foi o preço da venda das marcas Poços de Caldas e Paulista feita pela Laep, dona da Parmalat, para a Laticínios Morrinhos, da GP Investments. A transação ocorreu apenas quatro meses depois de a Parmalat ter adquirido essas marcas da Danone.

CONFAB

US$ 178 milhões
foi o valor do contrato cancelado pela Energia Argentina (Enarsa) com a Confab para o fornecimento de tubos de aço.

PERSONAGEM
A nova Transmissão

Dois anos após ser privatizada, a Companhia de Transmissão de Energia Elétrica Paulista (CTEEP) hoje respira aliviada. Sua privatização durante o governo Alckmin sofreu protestos na época e gerou um ano difícil para os investidores da empresa. Fechou 2006 com apenas 0,52% de valorização para seu papel ON, enquanto a oscilação de 2005 havia chegado a 178%. Em 2007, já privatizada, implantou mudanças de gestão que agradaram ao mercado e trouxeram efeitos positivos. “Em 2007, arrumamos a casa. Agora, estamos colhendo os resultados e esperamos que 2009 seja igual ou melhor”, afirma o diretor financeiro e de relações com investidores, Marcio Lopes Almeida. Enquanto o mercado acionário acumula baixas sucessivas, o papel ordinário da empresa apresentou alta de 41,71% em 2008, mesmo sendo um ano de incertezas para o setor elétrico. Almeida falou à DINHEIRO:

“Esperamos que 2009 seja igual ou melhor “
MARCIO LOPES ALMEIDA, diretor financeiro e de RI da CTEEP

 

DINHEIRO – O que a privatização significou para a CTEEP?
ALMEIDA – O surgimento de uma empresa muito grande e forte, que atua hoje em diversas frentes, sai vencedora de vários leilões e está conseguindo um crescimento orgânico muito sustentável graças às novas formas de financiamento que ela alcançou.

DINHEIRO – O que mudou na gestão?
ALMEIDA – Fizemos um plano de demissão voluntária em 2007, ganhamos mais agilidade e equipes mais enxutas. Conseguimos uma grande melhoria na performance. E estamos com a busca de melhores resultados sempre em mente. Há dois anos, a CTEEP era uma empresa. Hoje são cinco. E isso mostra eficiência e crescimento.

DINHEIRO – O papel da CTEEP apresentou constante valorização desde 2004, mas tem pouca liquidez. O que está sendo feito para que o mercado a conheça melhor?
ALMEIDA – Ela tem crescido ano a ano e o mercado tem olhado isso de forma positiva. E isso se reflete no preço do papel, que só tem aumentado. A empresa tem feito investimentos regulares, está presente nos leilões, possui uma boa estrutura acionária e isso está sendo notado pelos investidores.

DINHEIRO – Qual é a projeção de investimentos para 2008?
ALMEIDA – Entre 2008 e 2010 estamos investindo R$ 1,3 bilhão para a manutenção da companhia. Fora isso, investimos mais R$ 790 milhões nos dois últimos leilões de que participamos.

DINHEIRO – E as perspectivas de lucro e crescimento?
ALMEIDA – Lucramos R$ 410 milhões no primeiro semestre, um aumento de 13% em relação ao mesmo período de 2007, e esperamos que isso se mantenha até o final de 2008. Distribuímos 81% do lucro em forma de dividendo, sendo que no ano passado havia sido 76%. E o que queremos é apresentar resultados para os acionistas, e é o que estamos fazendo.
 

PELO MUNDO

GREVE NA BOEING

A ameaça de greve de funcionários da Boeing já surtiu efeito no mercado acionário. O papel da empresa caiu 5,13% na quintafeira 4. Os negócios da companhia são diretamente afetados, pois ela atrasará para entregar seu mais novo modelo, o Dreamliner, aos compradores. Cada dia de atraso custará à Boeing US$ 100 milhões.

SALVO PELOS DESCONTOS

O Wal-Mart apresentou resultados de vendas favoráveis em agosto, ao contrário da grande maioria das redes varejistas dos EUA. Apresentou alta de 3% nas vendas, contra o 1% esperado pelo mercado. Analistas atribuíram o resultado às promoções de volta às aulas nos EUA. As ações da rede subiram 0,69% na quinta-feira 4.

ALVO TECNOLÓGICO

As empresas de tecnologia levaram o S&P 500 ao vermelho na quinta-feira 4. Uma das principais quedas foi a Intel, que retraiu 4,6%.

NEGÓCIO DA CHINA

A Telefonica anunciou um aumento de participação na China Netcom, da qual detinha 5% das ações. O investimento proposto por César Alierta, CEO da espanhola, é de US$ 1,2 bilhão, o que fará da Telefonica proprietária de 10% da companhia. O mercado não reagiu bem ao anúncio e as ações caíram 2,5% em Madri.