A Dinamarca decidiu descartar definitivamente a vacina contra a covid-19 da AstraZeneca devido aos seus efeitos colaterais “graves” incomuns, anunciaram as autoridades de saúde nesta quarta-feira (14), tornando-se o primeiro país europeu a fazê-lo.

Depois de dois casos graves, um deles fatal, de coágulos sanguíneos em pessoas que receberam a primeira injeção, a Dinamarca foi o primeiro país europeu a suspender totalmente o uso da vacina em 11 de março, com o objetivo de estudar mais profundamente seus efeitos.

+ EUA querem comprometimento claro do Brasil contra desmatamento, alerta Psaki
+ STF decide se mantém liminar de Barroso que obriga instalação da CPI da Covid

Mas nesta quarta-feira o país anunciou a decisão final: “A campanha de vacinação na Dinamarca continua sem a vacina AstraZeneca”, disse o diretor da Agência Nacional de Saúde, Soren Brostrom.

“Existe uma eventual reação cruzada entre a vacina e uma baixa contagem de plaquetas. Também sabemos que há uma conexão temporal. A reação ocorre um a dez dias após a inoculação com AstraZeneca”, indicou.

“Esta decisão foi tomada com um contexto: na Dinamarca, a maior parte da população em risco já foi vacinada e a epidemia está sob controle”, insistiu o responsável da saúde, afirmando que partilha a opinião da EMA, a agência de medicamentos europeia, que considera que os benefícios da vacina superam os riscos.

A maioria dos países europeus que haviam suspendido o uso da vacina voltou a usá-la, mas estabelecendo um limite de idade. A Noruega anunciará sua decisão na quinta-feira.

A África do Sul também desistiu da AstraZeneca em fevereiro, pois há dúvidas da sua eficácia contra a variante que assola o país.

Os Estados Unidos e a Suíça não a autorizaram e a Venezuela se recusou a usá-la, invocando seus efeitos colaterais.

– Atraso no calendário de vacinação –

A suspensão dinamarquesa foi decretada há um mês, após a divulgação de relatórios que descreviam casos excepcionais de coágulos sanguíneos, combinados com baixo número de plaquetas e hemorragias.

De acordo com uma equipe médica do Hospital Nacional de Oslo, na Noruega, os casos atípicos são causados por “uma poderosa resposta imunológica” desencadeada pela vacina.

Cientistas suspeitam que tais efeitos estejam ligados aos adenovírus usados como “vetor viral” no produto do laboratório anglo-sueco e da americana Johnson & Johnson.

As cerca de 150 mil pessoas que receberam uma dose da vacina receberão outra na segunda, de acordo com as autoridades. Em torno de 8% dos 5,8 milhões de habitantes do país estão totalmente vacinados e 17% receberam a primeira dose.

O descarte do uso da vacina da AstraZeneca significa uma extensão em pelo menos três semanas do ambicioso programa de imunização dinamarquês, que previa a inoculação de todos maiores de 16 anos para o mês de julho.

A vacina Johnson & Johnson, cujas primeiras doses chegaram nesta quarta-feira, ainda não foram distribuídas. Os Estados Unidos suspenderam seu uso para investigar a ocorrência de casos graves de coágulos sanguíneos.

O laboratório decidiu adiar a distribuição de sua vacina em dose única na Europa, onde foi a quarta a obter autorização da EMA, em março.

Resta saber o que a Dinamarca fará com seu estoque de vacinas AstraZeneca, cerca de 200.000 doses armazenadas em refrigeradores.

Destruí-las quando o planeta sofre uma falta desesperada de vacinas? Revender ou doar para países pobres um produto que não considera seguro o suficiente para si mesmo? As principais opções podem provocar ações judiciais por imoralidade.

“Claro, queremos que as vacinas sejam usadas”, disse Brostrom na quarta-feira, sem fornecer mais detalhes.