Empresas fechadas, escritórios comerciais devolvidos nos maiores centros comerciais do País, funcionários em home office e perspectiva de permanência do trabalho remoto mesmo depois da pandemia. O cenário que descreve a rotina do mercado de trabalho neste ano poderia ser o prenúncio de uma tempestade perfeita para a Dimep, maior e mais antiga fabricante nacional de relógios de ponto, fundada em 1936 na capital paulista. Para não deixar de existir com o desuso de seu principal produto – o que no mundo dos negócios é conhecido como efeito Kodak, em referência à falência da empresa que não sobreviveu por resistir ao fim dos filmes fotográficos –, a companhia vem se transformando em uma desenvolvedora de tecnologia. “Fizemos um trabalho de mudança de mind-set, de uma fabricante de equipamentos de marcação de ponto para uma plataforma de gestão de pessoas”, afirmou o CEO Rodrigo Pimenta, neto do fundador Dimas de Melo Pimenta (cujas iniciais deram origem do nome Dimep).

A mudança de rota da Dimep se apoia, principalmente, na criação de sistemas de marcação de ponto digital. Para que as empresas se certifiquem de que seus funcionários estão na ativa durante o horário do expediente, mesmo que remotamente, há ferramentas de reconhecimento facial pela câmera de dispositivos como laptop e tablets, controle do login dos computadores e até geolocalização por sinal de celular ou satélite. “A decisão repentina de colocar centenas ou milhares de funcionários para casa, durante a pandemia, gerou um sentimento de perda de controle das empresas”, disse Pimenta. “Com novas tecnologias, ajudamos a melhorar o que chamamos de ‘workforce management’, a gestão de pessoas e as políticas de Recursos Humanos.” Batizado de Kairos (que na mitologia grega é o “Deus do momento oportuno”), o sistema possui recursos que permitem com que os gestores de equipes acessem as informações sobre as horas trabalhadas de seu time, através de um painel de controle que pode ser visto pelo smartphone.

HORÁRIO E TEMPERATURA Para atender à necessidade de buscar sintomas de contaminação durante a pandemia, a Dimep lançou controles de acesso com aferição de calor corporal. (Crédito:Divulgação)

A julgar pelos números, a transformação do portfólio e do modelo de negócio veio na hora certa. A Dimep deve fechar o ano, segundo o CEO, com faturamento de R$ 193 milhões, alta de 8% sobre os quase R$ 180 milhões de 2019. Com a pandemia, os equipamentos low touch ou touchless, que reduzem ou dispensam a necessidade de crachás, identificação pelas digitais ou palma da mão passaram de 70% das vendas totais, antes da Covid, para os atuais 80%. A demanda maior tem sido pelas catracas sem toque, as “smart gates”, e as câmeras de controle de acesso equipadas com aferição de temperatura. Os 20% restantes continuam sendo de equipamentos convencionais. “No futuro, acredito que haverá espaço para todas as ferramentas e equipamentos, sejam para o trabalho presencial ou para o home office”, disse Pimenta. “Assim como a tecnologia de aproximação não acabou com os código de barras dos boletos e com o QR Code, a gestão será feita de diversas formas.”

Curiosamente, a criação da Dimep se deu em tempos difíceis para a população mundial. O imigrante português Dimas de Melo Pimenta, na garagem de casa, no bairro de Pinheiros, decidiu produzir aqui o que a Alemanha deixava de exportar por causa da Primeira Guerra. Em pouco mais de quatro anos, conseguiu transformar a sua fabricação de relógios, iniciada em 1936, em uma produção industrial. Foi de suas experiências que nasceram o grande relógio com 3m de diâmetro instalado no prédio do antigo jornal A Noite, no centro de São Paulo, o relógio-mestre da então sede do Ministério da Fazenda, no Rio de Janeiro, e os primeiros relógios eletrônicos produzidos no Brasil, em 1959. Uma década depois, o Quartzo-Point se tornou o primeiro relógio de ponto a quartzo do mundo. O tempo passa. A Dimep fica.