A situação do presidente Jair Bolsonaro em ano de campanha eleitoral é delicada. Por um lado, pressões constantes do mercado e dos agentes econômicos defendem que a agenda liberal seja a melhor abordagem para angariar votos, do outro, a retomada da pauta de costumes, em especial as defendidas por igrejas evangélicas, vira exigência para garantir a manutenção de apoiadores fiéis do Messias. Fontes próximas ao presidente afirmaram que essa dúvida é constante, mas que o objetivo é achar um meio termo. 

Apagada no governo desde o início da pandemia, a ministra da Mulher, Família e Direitos Humanos deveria ser o canal de interlocução deste governo com a ala mais conservadora e tradicional do eleitorado, mas não tem sido. Com falas polêmicas (como a proferida na segunda-feira sobre redes sociais: “Não vem papai e mamãe jogar no colo do Ministério da Saúde: ‘resolva, minha filha engravidou’, depois que deixou sua filha ir pro TikTok vender seu corpo. Uma coisa está muito atrelada com a outra”) a ministra nunca teve no governo o espaço e relevância que seus aliados evangélicos esperavam. 

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Quando foi nomeada ao cargo em 2019, havia uma expectativa de integrantes das igrejas evangélicas de que ela seria um arauto de pautas de costume e mexeria, em especial, nas questões relacionadas à educação. Esse plano nunca andou. Agora, o desejo da ministra é tentar voltar a ser relevante dentro das decisões do Palácio do Planalto, e o argumento são os milhões de votos que a comunidade evangélica movimenta. 

O problema (para Damares) é que há um economista liberal no caminho. Ainda que as grandes reformas não saiam do papel, a equipe econômica do ministro Paulo Guedes quer reforçar a popularidade de Bolsonaro com ações que indiquem comprometimento com questões como redução do desemprego, revisão tributária e concessões. Um assessor técnico de Guedes confirmou à reportagem que está sendo desenhada e deve ser apresentada em março para o presidente uma lista de medidas que não dependem do Congresso e que podem ajudar na construção dessa imagem de um presidente que age mais do que fala. 

Enquanto as alas do costume e do liberalismo econômico batem cabeça, o tom geral na Alvorada é que não importa muito quem tenha o melhor argumento para convencer o presidente, reside na Casa Civil, na figura de Ciro Nogueira, o conselho que deverá nortear as decisões de Bolsonaro ao longo de 2022.