Uma semana de alto risco para o governo francês começa nesta segunda-feira, às vésperas de uma nova manifestação nacional contra a reforma da Previdência e, sem compromisso à vista, o temor de paralisia do país aumenta.

O transporte público em Paris continua perturbado, com oito linhas do metrô fechadas.

Nas estradas da região parisiense, mais de 620 km de engarrafamentos, contra 200 a 350 km em dias normais. Apenas um terço dos trens de alta velocidade está circulando e 4 em cada 10 trens regionais.

Desde 5 de dezembro, as pessoas tentam se adaptar à situação. François, que saiu de casa às 4h50, deve atravessar boa parte da região de Paris para chegar ao trabalho. “Até agora, trabalhei de casa ou peguei meu carro. Mas o carro não é mais possível, tanto financeiramente quanto em termos de cansaço”, disse à AFP enquanto esperava um trem.

A greve pode continuar até as festas de final de ano, com o governo e os sindicatos se culpando mutuamente por uma possível paralisia do país.

“Se o governo retirar seu projeto e passarmos a discutir seriamente sobre como melhorar o sistema (…) tudo ficará bem. Caso contrário, os grevistas decidirão o que fazer quinta ou sexta-feira”, declarou Philippe Martinez, chefe do sindicato CGT.

“Entrar em greve é legítimo, mas podemos respeitar momentos como as festas de final de ano, quando todos querem voltar para suas famílias”, reagiu a ministra da Transição Ecológica, Elisabeth Borne.

Nesta segunda, quatro sindicatos também pediram operações de bloqueios nas estradas para exigir melhores condições de trabalho. Os bloqueios começaram cedo em Lille (norte), Vannes (oeste), Toulouse (sudoeste) e Lyon (centro-leste).

Para as festas, a companhia ferroviária SNCF prepara um plano se a greve dos trabalhadores ferroviários continuar. Um funcionário da empresa prometeu “tentar fazer milagre” para sugerir horários alternativos.

A preocupação também é palpável no comércio, hotéis e restaurantes da capital francesa.

“Em Paris é uma catástrofe (…) não temos reservas”, lamentou Franck Delvau, responsável da união hoteleira Umih. Os restaurantes e comércios também registram perdas, de entre 50% e 60%; e 25% e 30%, respectivamente, segundo suas federações.

Devido às dificuldades de locomoção, várias universidades decidiram cancelar ou adiar as provas do último semestre.

– Novo teste na terça-feira –

Terça-feira será um dia decisivo. Todos os sindicatos convocaram greves e manifestações, incluindo organizações reformistas como o CFDT, o principal sindicato da França.

Essas organizações estão furiosas porque o primeiro-ministro Edouard Philippe manteve uma medida de idade em seu plano para transformar os 42 regimes existentes em um sistema universal por pontos.

O governo quer estabelecer uma “idade de equilíbrio” (64 anos em 2027) para incentivar contribuições mais longas e manter o equilíbrio financeiro do sistema. Isso significa que para receber aposentadoria integral o trabalhador deverá esperar até essa idade, mesmo podendo se aposentar aos 62 anos.

É uma “linha vermelha” para Laurent Berger, chefe do CFDT. “Para que o CFDT dê uma nova olhada neste projeto de lei, o governo deve concordar em retirar a idade de equilíbrio”, disse no domingo.

Trabalhadores ferroviários, professores, funcionários públicos, advogados e magistrados, médicos e profissionais da saúde vão se manifestar na terça-feira.

A saída da crise promete ser difícil, ainda mais depois que nesta segunda-feira o idealizador do projeto do governo, Jean-Paul Delevoye, foi forçado a renunciar por suspeita de conflitos de interesse.

O funcionário não havia declarado 13 cargos que exerceu, alguns remunerados, simultaneamente ao cargo no governo, o que é proibido na França.

Apesar da crise, de acordo com uma pesquisa da Elabe divulgada nesta segunda-feira, a confiança dos franceses no presidente Emmanuel Macron e em Philippe aumentou em 2 e 4 pontos, respectivamente, ao longo de um mês.