Oficialmente, o Dia Internacional da Mulher será comemorado nesta terça-feira (8) sob o tema Igualdade de Gênero Hoje para um Amanhã Sustentável. A hashtag é iwd2022. Segundo a ONU, o lema escolhido está alinhado com a agenda da 66ª Comissão sobre a Situação da Mulher (CSW66), que acontece entre segunda-feira (14) e dia 25 de março, cuja pauta se divide entre Temas Prioritários (“Alcançar a igualdade de gênero e o empoderamento de todas as mulheres e meninas no contexto das mudanças climáticas”) e Temas de Revisão (“Empoderamento econômico das mulheres no mundo do trabalho em mudança”).

Vou tratar dos tais temas de revisão, que são aqueles que começaram a ser discutidos nas comissões de anos anteriores. A ONU tem suas sutilezas. E ao dizer “empoderamento econômico das mulheres no mundo do trabalho em mudança”, ela não diz empoderamento de “todas as mulheres”. Porque sabe que o objetivo não seria atingido. Não no prazo em que as coisas ainda hoje acontecem. Mesmo com iniciativas múltiplas pelo mundo todo. Uma mudança acelerada só acontecerá se for efetivada como política de Estado. Que parta da esfera federal e atravessa as estaduais e municipais. Com a adoção de um maciço esforço de levar mulheres às chamadas carreiras STEM. O acrônimo em inglês para Ciências, Tecnologia, Engenharia e Matemática é a única saída. Desde sempre, mas especialmente com a transformação digital acelerada das duas últimas décadas, são as carreiras que melhor pagam e mais vagas oferecem.

Brasil: 4 mulheres são vítimas de feminicídio por dia; estupros se multiplicam

Quando se entra em leitura de cenário, no entanto, é preciso cuidado. Porque existe um paradoxo quando se discute redução de desigualdade em qualquer campo. Pegue-se o discurso de universidades públicas no Brasil. Políticas afirmativas levaram à inclusão de porcentuais ascendentes de alunos ingressantes que fizeram o ensino médio em escolas públicas. Muitas instituições e governos se vangloriam de ter já “mais de 50% de estudantes desse perfil” nas universidades públicas – no distorcido modelo brasileiro, o ensino superior público fica sistematicamente na mão de oriundos da rede privada do ensino fundamental. Qualquer guinada nessa curva é positiva. Então é evidente que há o que se comemorar. Mas ainda não se trata de conquista, já que 87,7% dos brasileiros que estavam no Ensino Médio em 2020 (dados do Censo Escolar) estudaram em escolas públicas. Ou seja, enquanto estes índices de 50% ou mais nas universidades públicas não chegarem a 88% não há conquista, há batalhas.

O mesmo vale para o campo do gênero. As mulheres precisam povoar mais as carreiras STEM. Mas não qualquer área. Pegue-se Ciências. Nela a presença feminina é superior à masculina. Mas aqui há uma extensão de vagas que remuneram menos, que estão na parte de baixo da pirâmide. Já em Engenharia e Tecnologia, elas são minorias. Ou seja, mesmo dentro do STEM é preciso cuidar do equilíbrio. Pesquisa divulgada no ano passado pelo Pew Research Center, com dados dos Estados Unidos, mostram essa distorção. Dentro de Ciências há dois subgrupos. No Saúde (uma vaga de enfermagem, por exemplo), 74% dos postos estavam ocupados por mulheres. No subgrupo Ciências da Vida (um biomédico, por exemplo), caía para 48%. No campo da Matemática a ocupação regredia para 47%, no da Física para 40%, em Computação para 25% e em Engenharia para 15%.

Se nos Estados Unidos a encrenca é grande, no Brasil é maior. Combater esse gap é acelerar a redução real e veloz de desigualdade de gênero. Para isso, candidatos presidenciais para o fim do ano poderiam olhar. Deveriam olhar. Nenhum deles fala desse tema. Mas um projeto consistente, que misture bolsa de estudos para meninas de todo o Brasil com ingresso em áreas STEM de todos os níveis do ensino (Fundamental, Médio e Superior) pode fazer virarmos esse jogo no prazo de uma geração. E não se trata, evidentemente, de eliminar outras matérias das aulas. Até porque todo questionamento nasce da Filosofia.