O enólogo português Pedro Ribeiro, das vinícolas alentejanas Herdade do Rocim e do Bojador, assumiu, definitivamente, a bandeira dos vinhos em ânfora. Ele é o principal organizador do Amphora Wine Day, que tem sua primeira edição neste domingo, dia 11 de novembro, na Herdade do Rocim. A ideia é festejar a abertura das talhas, como as ânforas são chamadas no Alentejo, exatamente no dia de São Martinho. Esta é a data em que tradicionalmente os vinhos elaborados nestes potes de barro são provados pela primeira depois da colheita de cada ano.

O evento conta com 23 produtores confirmados. A maioria são vinícolas do Alentejo, como a Herdade do Esporão e a da enóloga Susana Esteban, que descobriram a vocação para as ânforas em safras recentes. A vinícola José de Sousa, que utiliza as ânforas há mais tempo, principalmente para o amadurecimento dos vinhos, também estará presente. O evento reúne também produtores da Itália, da França, da Armênia e da Espanha, além de talhas de outras regiões de Portugal.

Este ano de 2018, foram certificados 61.088 litros de vinhos de ânfora no Alentejo, segundo dados da Comissão Vitivinícola Regional Alentejana. No ano passado, foram 39.555 litros; em 2003, foram 4.950 litros. O crescimento é exponencial, desde que a certificação deste vinho foi regulamentada em 2001. Mesmo com o volume crescente, a elaboração de vinhos em ânforas no Alentejo é maior, já que vários produtores não certificam o vinho, que usam para o seu consumo doméstico ao longo do ano. As ânforas, redescobertas recentemente, fazem parte da cultura alentejana de elaborar o seu vinho corrente, principalmente nas zonas rurais, tradição mantida ao longo dos séculos. Em geral, os cachos inteiros são colocados dentro do pote. Com o peso das uvas, sua pele vai se rompendo e a fermentação começa com as leveduras presentes nas cascas da própria uva.

Além dos dados do Alentejo, chama a atenção o interesse dos produtores em outros países em elaborar vinhos em ânforas. Apenas na América Latina, já há exemplos de vinhos em ânforas na Argentina e no Brasil. Por aqui, as gaúchas Lidio Carraro e Luiz Argenta fazem experiências com os potes de barro.