O líder do Movimento Cinco Estrelas (M5E), Luigi Di Maio, anunciou sua renúncia nesta quarta-feira (22) como líder do partido antissistema, provocando um terremoto político para a Itália.

“Estou aqui para entregar minha renúncia como líder do Movimento 5 Estrelas”, afirmou Di Maio, ao final de um longo discurso no qual chamou seu partido a se preparar para “uma nova era” e pediu que a atual aliança com a esquerda “continue governando” até o final da Legislatura.

A decisão de Di Maio, de 33 anos, atual ministro das Relações Exteriores, cargo ao qual não renunciou, foi oficializada ante representantes de seu partido e meios de comunicação.

“Encerra-se uma era, chegou o momento da refundação”, disse o jovem político, que defendeu sua liderança, iniciada em 2017, quando foi eleito para substituir o comediante Beppe Grillo, fundador do movimento.

“Neste percurso, defendi o movimento de oportunistas e trapaceiros”, assegurou, após pedir que sua renúncia não desencadeie uma crise com seus aliados do governo, o esquerdista Partido Democrático.

O anúncio, a apenas quatro dias da eleição regional crucial de domingo na Emília-Romanha, no próspero noroeste, ameaça desatar sérias reações políticas, segundo observadores e editorialistas.

“Este governo deve seguir adiante, não corre perigo”, afirmou perante os assistentes, que o interromperam em várias ocasiões com aplausos e ovações.

Os antissistema, que nas eleições de março de 2018 arrasaram com históricos 33% dos votos, hoje em dia seriam escolhidos por apenas 15% dos eleitores italianos, segundo pesquisas, um descalabro inédito que pediu para enfrentar em uma assembleia geral prevista para março.

“Muitos me acusaram de ser ingênuo demais. Prefiro passar por ingênuo do que por trapaceiro”, respondeu, ao mencionar também as críticas recebidas por ter pactuado do adversários, tanto da direita quanto da esquerda, para poder governar.

“O fogo amigo pede vingança”, disse, ao acusar seus copartidários de “apunhalá-lo pelas costas”, em alusão aos cerca de 30 parlamentares entre expulsos e desertores que saíram do movimento.

O líder dos antissistema concluiu seu discurso com um gesto engraçado, ao tirar publicamente a gravata que nunca deixou de usar.

“Para mim, era um símbolo do papel do líder político, me identificavam por ela”, admitiu.

– Menino prodígio –

O jovem Di Maio, considerado a face moderada do antissistema Movimento 5 Estrelas, foi um dos políticos italianos que viveu uma fulgurante ascensão e queda.

Afilhado político de Beppe Grillo, iniciou sua carreira como vice-presidente da Câmara dos Deputados em 2013, tornando-se o mais jovem da história da Casa, e ocupava a liderança do partido desde setembro de 2017.

Sempre vestido de forma impecável e com modos elegantes, Di Maio decidiu jogar a toalha e afrouxar a gravata depois de uma série de descalabros eleitorais, alianças desatinadas, abandonos de militantes e queda vertiginosa da popularidade nas pesquisas de opinião.

Com um estilo completamente diferente ao de Grillo – famoso pelas vulgaridades e pelos palavrões – Di Maio passou a ser a estrela do partido, que conquistou os italianos fartos da corrupção e dos privilégios da casta política a um exemplo de apego ao poder ao pactuar alianças primeiro com a ultradireitista Liga, de Matteo Salvini, e depois com o esquerdista Partido Democrático.

“Esgotou-se com os contínuos ataques internos. Uma coisa é que teus adversários te ataquem, outra são os teus”, explicou o deputado do Movimento, Sergio Battelli.