Deu zebra. Parecia final de campeonato em que o lanterninha toma a dianteira e acaba vencendo. Na quarta-feira 21, o governo encerrou um campeonato que durava cinco meses e era protagonizado por operadoras de telefonia e empresas de tecnologia. O gol era um pedaço de ar, a faixa de freqüência da banda C, a nova geração de telefonia celular no País. De um lado, a alemã Siemens, a finlandesa Nokia e a francesa Alcatel. Do outro, a americana Motorola e a coreana Samsung. A Anatel fez sua decisão. Venceu o primeiro grupo, que representa o GSM 1.8, tecnologia européia usada em 144 países. A disputa envolvia muito mais que a escolha da freqüência e tecnologia. O troféu era um dos mais rentáveis negócios dos últimos anos, que movimentará US$ 10 bilhões. ?Só de licitação, a banda C deve gerar US$ 4 bilhões aos cofres públicos?, explica Jefferson Scalabrin da Silva, analista do Yankee Group. ?O resto virá de investimento em tecnologia.?

A briga é justificável. Potencialmente, o Brasil é o terceiro maior mercado de telefonia móvel do mundo. Os 15 milhões de celulares serão triplicados até 2005. E a banda C abocanhará 25% disso. Pelo cronograma, os primeiros aparelhos GSM estarão falando em 2001. Nem americanos nem europeus queriam ficar fora. Era a última chance dos europeus entrarem, ou não, no País. ?Não há segredos. A próxima onda de celulares ? os 3G que ligam telefonia à Web ? seguem a mesma tecnologia?, diz o analista.

Tão logo a Anatel fez seu anúncio, a Siemens se apressou em divulgar novos investimentos no Brasil. ?Investiremos US$ 50 milhões em dois anos?, diz Aluizio Byrro, diretor-geral da empresa que detém hoje 20% do mercado europeu de telefonia. A Siemens planeja construir sua segunda fábrica no País, desta vez em Manaus, para suprir a nova demanda. Os primeiros GSM chegam em julho de 2001. Para o consumidor final, adianta Byrro, os custos de telefonia cairão em até 20%. ?Esta tecnologia tem economia de escala e oferece preços menores.?

A Nokia quer também aumentar sua presença no País ? que já é seu 7º maior mercado, com vendas de US$ 600 milhões em 99. Agora, o Brasil promete mais. ?Nosso foco é em infra-estrutura e terminais?, lembrou Jussi Koria, diretor da Nokia Networks. ?Aqui não será diferente. Investiremos quanto for preciso para atender à demanda.? Cerca de 35% do faturamento global da Nokia vem da venda de tecnologia.

As empresas derrotadas avisaram que não abandonaram o jogo. Passarão a produzir para a nova tecnologia. A decisão veio como um golpe para a Samsung, que investiu US$ 20 milhões na construção da fábrica em Manaus. Bruno Lee, diretor-adjunto de Telecom da Samsung, afirmou que deverá adequar toda a produção de aparelhos para o sistema GSM. ?Já atendemos os mercados asiáticos e europeus. Apenas traremos esta tecnologia para cá?, lembrou. A produção estimada para este ano continua normalmente, para atender à banda B. A Motorola, líder brasileira em venda de aparelhos, também afirmou estar confortável com a decisão. Presente na Europa, possui know-how para fabricar tecnologia GSM. Mas não deixou de manifestar sua posição contra a decisão. ?Escolheram uma tecnologia dos anos 80?, diz José Maurício Gomes, diretor comercial.