O presidente Jair Bolsonaro e sua trupe terão mais contas a prestar a partir de 2023, quando devem desocupar o Palácio do Planalto e a Esplanada dos Ministérios, tanto quanto o ex-bilionário Eike Batista em 2013, ao falir junto com sua petroleira, a OGX. Além da matança na pandemia, o time governista terá de explicar a mais intensa destruição do meio ambiente que se tem notícia na história recente do País. E, por mais que gritem suas verdades alternativas, os números comprovam que o desmatamento doloso – que é diferente de queimada espontânea do mato seco – se tornou política de governo em prol da expansão da agropecuária.

Antes que os mugidos e os xingamentos tomem conta dos comentários nas redes sociais, analisem as estatísticas. Segundo Projeto de Monitoramento da Floresta Amazônica Brasileira por Satélite (Prodes), os dez municípios da Amazônia Legal que mais desmataram em 2020 tiveram um incremento de 480,4 mil cabeças em seus rebanhos no ano passado. Os dados, divulgados por reportagem da Bloomberg Línea, mostram que, juntas, as cidades tiveram o corte raso de 3.830 quilômetros quadrados (383 mil hectares) de floresta, incluindo desmatamento legal e ilegal.

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Parece pouco, mas é trágico. A área desmatada nessas cidades equivale a mais de duas vezes o tamanho do município de São Paulo. Nesses locais, a rebanho bovino passou de 6,31 milhões, em 2019, para 6,80 milhões de cabeças em 2020, de acordo com dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas (IBGE). Para cada hectare desmatado nessas regiões, segundo a reportagem, é como se 1,25 cabeça tivesse sido adicionada ao rebanho. Os dados do Prodes mostram que entre 2010 e 2020 o corte raso de árvores na região aumentou 62%, enquanto a evolução do rebanho bovino nos mesmos Estados avançou 25%, segundo o IBGE.

No restante do Brasil, a situação não é diferente. Os cinco Estados que mais desmataram o bioma amazônico no ano passado cortaram 9,9 mil quilômetros quadrados de floresta, área equivalente a uma vez e meia a cidade chinesa de Xangai. Pará, Mato Grosso, Amazonas, Rondônia e Acre adicionaram a seus rebanhos 2,77 milhões de cabeças no ano passado, desempenho que representa um crescimento de 4% em comparação a 2019.

Parte desses números explica, de forma inquestionável, as razões que levam produtores rurais a demonstrar apoio incondicional ao presidente. No quesito desmatamento, Bolsonaro é comparsa no crime. Derrubar floresta para expandir plantações de soja e pastos para o gado é, inclusive, crime inafiançável. Para relembrar, Lei 9.605/1998, no artigo 50: destruir ou danificar florestas nativas ou plantadas ou vegetação fixadora de dunas, protetora de mangues, objeto de especial preservação. Pena: detenção, de três meses a um ano, e multa.

Entre os muitos crimes cometidos pelo atual governo, este provavelmente vai figurar no top 3. O legado de destruição e morte será lembrado por gerações. Mais do que apenas negacionista, racista, homofóbico, genocida e intelectualmente incapaz, Bolsonaro será lembrado como o presidente que multiplica o gado. Nesse caso, multiplicação em que o resultado é negativo.