Ao longo de um ano, uma expedição científica acompanhou de perto os tigres de Sumatra, na Indonésia, e constatou que o desmatamento e a fragmentação das florestas na ilha aumentou a ameaça de extinção da espécie (Panthera tigris sumatrae). Em Java e em Bali – as ilhas vizinhas de Sumatra -, assim como em Cingapura, os tigres foram extintos no século 20.

De acordo com o novo estudo, que teve seus resultados publicados na revista Nature Communications, o intenso desmatamento em Sumatra entre 2000 e 2012 reduziu a população de tigres em mais de 16%. Nas áreas de florestas protegidas, porém, o número de tigres vem crescendo quase 5% ao ano desde 1996.

Segundo Matthew Luskin, autor principal do estudo e pesquisador da Smithsonian Institution, esses resultados indicam que é preciso aumentar o foco na preservação de florestas para proteger a espécie da extinção.

“Nossos resultados são ambivalentes. Houve uma redução constante das populações de tigres nas áreas desmatadas e fragmentadas. Mas houve um grande aumento nas áreas com florestas preservadas. Isso mostra como a perda de habitats fundamentais está provocando um considerável desafio de conservação para Sumatra – e em particular para essa espécie criticamente ameaçada”, disse Luskin.

O cientista afirma que determinar a distribuição e estimar a população de espécies ameaçadas é essencial para o desenvolvimento de esforços de conservação. Mas as avaliações confiáveis são raras por causa das discrepâncias na maneira como esses números são calculados.

Utilizando novos métodos para calcular os números populacionais, os pesquisadores estimaram o número de tigres em Sumatra nas últimas duas décadas. De acordo com o estudo, em toda a ilha sobraram entre 328 e 908 animais. Segundo os autores, a estimativa é um pouco mais otimista que a da União Internacional para a Conservação da Natureza (IUCN, na sigla em inglês): de 441 a 679 tigres.

Para chegar a esses números, os cientistas compilaram estimativas publicadas sobre a densidade de tigres e associaram essas informações a novos dados, mais robustos, obtidos com base em armadilhas fotográficas e métodos de captura e recaptura. Os dados abrangem diferentes tipos de floresta.

Os dados revelaram que, entre 2000 e 2012, houve uma queda de 16,6% no número de tigres, em média, com taxas variando ao longo da ilha. Já nas florestas protegidas, o número de tigres aumentou 4,9% ao ano desde 1996.

Retrocesso

De acordo com Luskin, depois da extinção dos tigres em Java, Bali e em Cingapura, foram feitos vários esforços contra a caça, para evitar que a subespécie de Sumatra tivesse o mesmo destino. Segundo ele, esses esforços foram amplamente bem-sucedidos, fazendo com que a densidade de tigres aumentasse nas últimas duas décadas. “O número de tigres agora nas florestas não exploradas é o dobro do que existe nas áreas degradadas.”

No entanto, as áreas protegidas estão sendo brutalmente reduzidas e o desmatamento – que é feito para a substituição de florestas por culturas de óleo de palma – está diretamente associado ao declínio das populações de tigres.

De acordo com o cientista, entre 1990 e 2010, Sumatra perdeu 37% de sua cobertura florestal. “Só entre 2000 e 2012, Sumatra teve 17% de suas florestas devastadas. Esse desmatamento apagou todos os avanços conseguidos com os esforços de conservação”, disse Luskin.

Tarefa difícil. Nas selvas, predadores raros como os tigres de Sumatra são quase invisíveis e a obtenção de informações sobre eles é difícil, segundo Luskin. Os cientistas passaram um ano inteiro em trilhas em remotas florestas da ilha indonésia e montaram centenas de câmeras que fazem fotos e gravam vídeos automaticamente quando os animais passam diante delas.

Cada tigre avistado foi identificado pelos seus padrões de listras, que são únicos para cada indivíduo, permitindo que os cientistas rastreassem seus movimentos pela floresta.

Com os dados das câmeras, a equipe de Luskin calculou que o habitat de cada tigre se estende por cerca de 390 quilômetros quadrados – uma área muito maior que as utilizadas por tigres de outras regiões como a Índia. Segundo Luskin, isso indica que os tigres de Sumatra precisam de parques maiores para sobreviverem.

O estudo mostrou que a densidade de tigres é 47% maior em florestas primárias, em comparação às florestas degradadas, onde houve exploração de madeira. À medida que aumenta a fragmentação florestal, a densidade de tigres cai desproporcionalmente.

Número mínimo

A equipe de pesquisa combinou seus resultados com dados obtidos por outros cientistas e estimou o número de tigres remanescentes em cada uma das florestas de Sumatra. Eles descobriram que atualmente existem apenas dois habitat grandes o suficiente para abrigar mais de 30 fêmeas em idade reprodutiva – um número mínimo, segundo o cientista, para que uma população de tigres seja viável a longo prazo.

“A destruição de amplas áreas selvagens faz com que os tigres de Sumatra deem um passo a mais em direção à extinção. Esperamos que esse estudo sirva como um apelo”, afirmou Luskin.

“Salvaguardar as áreas remanescentes de florestas primárias é absolutamente fundamental para garantir que os tigres possam persistir indefinidamente em Sumatra”, disse outro dos autores da pesquisa, Mathias Tobler, da entidade Zoo Global de San Diego (Estados Unidos).

A mais conhecida dessas áreas remanescentes é o Parque Nacional Gunung Leuser, ao norte de Sumatra, onde organizações como a Fundação Leonardo DiCaprio trabalham para evitar o desmatamento e a caça ilegal. “O reflorestamento em larga escala é improvável. Se vamos salvar os tigres de Sumatra na selva, a hora de agir é agora”, disse Tobler.