Por Jake Spring

SÃO PAULO (Reuters) – O Brasil teve o maior desmatamento já registrado na floresta amazônica para o mês de janeiro, de acordo com dados do governo nesta sexta-feira, à medida que a destruição continua piorando, apesar das recentes promessas do governo de controlá-la.

O desmatamento na Amazônia brasileira totalizou 430 quilômetros quadrados no mês passado, 5 vezes maior do que janeiro de 2021, mostraram dados preliminares de satélite do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe).

Essa é a maior taxa de desmatamento para o mês desde que a série de dados atual começou a ser efetuada em 2015/2016.

Pesquisadores ambientais disseram que não ficaram surpresos ao ver a destruição ainda aumentando, dado o enfraquecimento das proteções ambientais no governo do presidente Jair Bolsonaro.

Com pouco medo de punição, os especuladores estão cada vez mais desmatando a floresta para fazendas em apropriações ilegais de terras, disse Britaldo Soares Filho, pesquisador de modelagem de sistemas ambientais da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). Os altos preços da carne bovina, soja e outras commodities também estão aumentando a demanda por terras baratas.

“A gente poderia ficar surpreendido por não ter aumentado ainda mais”, disse Soares Filho. “O governo atual está promovendo o desmonte da proteção ambiental do Brasil, das leis ambientais e da fiscalização ambiental, como comando e controle, então isto é uma corrida, está tendo uma corrida para desmatar sobretudo a Amazônia.”

O Palácio do Planalto não respondeu imediatamente ao pedido de comentário sobre os números do desmatamento ou as políticas ambientais do governo.

O Ministério do Meio Ambiente disse que “a avaliação mês a mês não traz uma análise estatística consistente sobre as ações”, afirmando que de agosto a janeiro o desmatamento caiu 5% em relação ao mesmo período do ano anterior.

O governo federal está atuando de forma ainda mais contundente em 2022 no combate aos ilícitos ambientais, acrescentou o ministério em nota à Reuters.

A preservação da Amazônia, a maior floresta tropical do mundo, é vital para conter as mudanças climáticas devido à grande quantidade de gases de efeito estufa absorvidos por suas árvores.

Bolsonaro há muito defende mais agricultura comercial e mineração na Amazônia para ajudar a tirar a região da pobreza.

Sob pressão internacional dos Estados Unidos e da Europa, o Brasil se comprometeu no ano passado a acabar com o desmatamento ilegal até 2028 e assinou um pacto global para acabar com toda a destruição florestal até 2030.

Logo após esses compromissos, o Inpe divulgou dados que mostraram que o desmatamento em 2021 na Amazônia brasileira atingiu o ponto mais alto em 15 anos. Os dados preliminares de janeiro apontam que a destruição continua aumentando.

MUDANÇA POLÍTICA

Ana Karine Pereira, cientista política da Universidade de Brasília (UnB), disse que, embora Bolsonaro e seu governo tenham mudado de tom no ano passado, suas políticas permanecem as mesmas.

Soares Filho e Ana Karine afirmaram que o desmatamento só vai parar de aumentar se Bolsonaro perder a eleição presidencial em outubro.

“A mudança do perfil político do presidente e da liderança do governo federal será crucial nesse momento para a gente ter uma ruptura nesse padrão, essa tendência de altas taxas de desmatamento”, disse a cientista política da UnB.

O alto desmatamento é incomum na atual estação chuvosa, quando é mais difícil para os madeireiros acessarem a floresta tropical. Os dados de janeiro mostraram que a nova derrubada ainda é menos da metade do que o normalmente observado durante os meses de pico de junho a setembro.

Um pesquisador de monitoramento de desmatamento do Inpe disse à Reuters que o aumento no mês passado pode ser parcialmente devido aos níveis mais altos de cobertura de nuvens em novembro e dezembro do que no ano anterior.

Essas nuvens podem ter ocultado dos satélites a destruição naqueles meses que foi posteriormente revelada em janeiro, disse esse pesquisador, que não estava autorizado a falar publicamente.

Ainda assim, a cobertura de nuvens permaneceu relativamente alta em janeiro, caindo para 43%, ante 54% em dezembro.

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