Por Lisandra Paraguassu

BRASÍLIA (Reuters) – A desistência de João Doria de sua candidatura à Presidência pelo PSDB pode acelerar um discreto movimento de apoio de nomes históricos do partido em direção ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), mesmo que ainda não no primeiro turno, a depender do trabalho feito pelo petista e por seu candidato a vice, o ex-governador tucano Geraldo Alckmin.

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A avaliação de fontes petistas e tucanas é que a decisão de Doria e o fato do PSDB não ter candidatura própria –mesmo que a aliança com o MDB de Simone Tebet seja confirmada– facilita uma aproximação que, até agora, vinha apenas de conversas com alguns tucanos históricos, como o ex-senador Aloysio Nunes Ferreira e o senador Tasso Jereissati (PSDB-CE).

O PT não espera uma adesão do partido como um todo e nem um palanque recheado de tucanos no primeiro turno, mas mira apoio de nomes tradicionais ao menos no segundo turno, mas esse é um movimento que vem sendo feito com cuidado pela cúpula do partido.

Uma das expectativas dentro da campanha é que Alckmin possa ajudar nessas pontes, mas uma fonte próxima ao ex-governador garante que esse movimento ainda não foi feito. “Ele ainda não está conversando com ninguém (do PSDB)”, disse a fonte. “Vai vir mais gente, mas não agora. Precisa esperar um pouco.”

Na semana passada, Aloysio Nunes foi o primeiro tucano a declarar voto em Lula já no primeiro turno, ainda com a candidatura de João Doria presente.

“É uma decisão que tomei. Não tem terceira via, Lula não é um radical e a decisão que Alckmin tomou, que leva a chapa mais para o centro, foi muito sábia”, disse o ex-senador e ex-ministro à Reuters.

Aloysio conta que recebeu apoio de pessoas dentro do PSDB, mas que um movimento de mais tucanos em favor de Lula e Alckmin depende agora da ação de ambos.

“Depende de Lula, Alckmin e de partidos da coligação mostrarem que pretendem ampliar a campanha para além do que há hoje”, afirmou.

Nesta segunda-feira, o PT passou o dia em reunião em São Paulo com os representantes de todos os sete partidos da coligação da candidatura presidencial. Oficialmente, a presidente do partido, Gleisi Hoffmann, negou que tenha sido debatida a desistência de Doria e uma aproximação com o PSDB.

“Não somos contra conversar com ninguém que queira se colocar nesse campo democrático, mas não foi discutido ainda”, afirmou em entrevista no final da reunião.

Mas outros presentes no encontro afirmam que o partido irá sim tentar pontes com os velhos rivais tucanos.

A fonte ligada a Alckmin disse que a dificuldade no primeiro turno é obter apoio de nomes que ainda têm cargos no partido ou pretensões eleitorais, o que não é o caso de Aloysio, que deixou claro que não quer ser candidato a nada.

“Aloysio pode falar o que quiser. Os outros ficam com medo por causa de fidelidade partidária, ser taxado de traidor… provável que fica mais para o segundo turno”, disse.

Os contatos podem se intensificar agora, mas existem há algum tempo. O próprio Lula já teve pelo menos dois jantares com Aloysio e também se reuniu com Jereissati.

Em maio do ano passado, reuniu-se com o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, em um almoço que ganhou manchetes na imprensa. Não houve mais contatos pessoais entre eles, e FHC era um defensor da candidatura de Doria mas, de acordo com fontes, canais continuam abertos.

 

(Reportagem adicional de Ricardo Brito)

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