Artista fluminense, Carlos Alberto Sobral é referência quando se trata do design brasileiro de bijoux e objetos decorativos. Com peças multicoloridas que fazem referência ao Pop Art e artistas como Polock e Kandinsky, suas criações fizeram sucesso primeiro no exterior e depois conquistaram o Brasil. Sobre essa experiência internacional, Sobral avalia: “Eu tenho a ousadia, o calor, o colorido dos trópicos e Paris aportou a elegância da cultura francesa. E isso dá uma química muito boa. Eu cheguei com um bom produto e vendendo, mas a medida que fui entendendo o gosto daquele mercado, ele foi sendo lapidado”.

Em entrevista ao programa Conversa com Roseann Kennedy, da TV Brasil, ele fala dos percalços do início de sua carreira, de sua arte e dos desafios de ser empreendedor no país. “Ser empresário no Brasil, é coisa de maluco”, lamenta. Com a experiência de quem já teve que recomeçar inúmeras vezes no ramo, o empresário diz que não tem medo de ousar e dispara: “Para mim, não tem outro caminho. É como se eu estivesse em uma guerra de costas para o rio. Eu só posso abrir caminho para a frente, brigando.”

Hoje, sua marca tem 21 lojas dentro e fora do Brasil, três delas, em Paris. Sobral já teve suas peças usadas em videoclip da cantora norte americana Beyoncé e produziu exclusivamente para desfiles do designer de moda Karl Lagerfeld. Diz que ele próprio não reconhecia a importância de seu trabalho até conhecer o estilista alemão. “Quando eu fiz um desfile com ele, ele me tratou como igual”. E lamenta que infelizmente no Brasil não há a mesma cultura. “O criador não é visto da mesma forma”. E completa: “Eles tem um olhar que te dá a importância do trabalho que você tá fazendo. E o meu trabalho merece respeito”.

Carlos Sobral

Carlos Sobral é o entrevistado de Roseann Kennedy (Arquivo/Agência Brasil)

O reconhecimento internacional do designer também veio por meio exposição de suas peças no Museu do Louvre, em Paris, e na sua inclusão no acervo permanente do Brooklyn Museum de Nova Iorque. Sobral conquistou cinco vezes o ‘Etoile de Mode’, o equivalente ao Oscar da Indústria de acessórios e teve suas obras encomendadas por nomes como Valentino e Chanel. “Queria fazer um negócio bem feito, não queria só fazer bijuteria”. E citando o livro Fernão Capelo Gaivota de Richard Bach, completa: “Eu não queria só voar pra pegar as sobras dos barcos. Eu queria voar literalmente”.

Hoje, Sobral divide o tempo entre a criação artística e trabalhos sociais na baixada fluminense. Sobre o rótulo de quem mantêm um espírito hippie por causa do início de sua carreira, quando estendia seu artesanato em portas de restaurantes, ele declara com bom humor: “Ou eu nunca fui, ou sempre fui e continuo sendo (hippie). Porque eu sempre fui criativo. Sempre fui um pouco marginal no meu trabalho. Eu sempre trabalhei com as mãos, sempre criando coisas e vendendo”. Para ele, é possível buscar formas de vida fora do modelo convencional, onde as pessoas vivem apenas de “casa para o trabalho e do trabalho para a casa”. Diz que admira quem faça isso, mas que esse modelo não foi feito pra ele. E conclui: “Então se hippie é ter essa ideia, eu tenho essa ideia até hoje. Prá mim, o sonho não acabou. Eu continuo vivendo da mesma maneira. Eu vivo do trabalho manual, vivo da criação que eu faço. Eu acredito na criatividade”.

O programa Conversa com Roseann Kennedy vai ao ar na TV Brasil, às segundas-feiras, às 21h15.