Saudade é uma palavra que, dizem, só existe na língua portuguesa. No entanto, o sentido dela é universal e pode ser provocado por qualquer coisa, inclusive por carros. Atenta ao fascínio que o automóvel provoca nas pessoas, a indústria automobilística mundial desenvolve carros inspirados nos sucessos do passado. Algumas vezes são apenas referências, como lanternas ou grades dianteiras, em outras a ousadia é maior e o resultado são cópias atualizadas e releituras de estilo. O sócio-diretor da consultoria Integral, Giuliano Caloi, explica que adotar um estilo nostálgico tem uma razão de mercado: os nichos. ?Nenhum desses veículos se destina ao grande público?, diz. Segundo Caloi, o alvo são pessoas com muito dinheiro e que buscam um carro diferente dos demais, de preferência com apelo sentimental. Assim, explorar a saudade das pessoas com relação a épocas passadas, como os anos dourados (década de 50), é um instrumento forte de vendas. Ele fala com conhecimento de causa. Caloi foi o gerente responsável pelo relançamento do Fusca em 1995. ?O entusiasmo das pessoas era muito maior do que o esperado?, recorda. ?Engenheiros e técnicos de outros países estiveram por aqui fazendo perguntas sobre o carro?, lembra. Embalada na aceitação mundial do carrinho, a Volkswagen reestilizou o veículo, lançando com o nome de New Beetle, ao preço de R$ 46,5 mil, um preço que em nada lembra o do velho Fusca.

Nostalgia. Por isso, foi com indisfarçável orgulho que Richard Wagoner, CEO da General Motors, anunciou há duas semanas que a empresa vai produzir o Chevrolet SSR. O carro é um fora-de-estrada que lembra as picapes fabricadas nos Estados Unidos nos anos 40 e 50. O próprio Wagoner muito provavelmente deve ter começado a dirigir num desses modelos, que povoam o imaginário americano até hoje. Com certeza, será mais um carro de produção pequena e preço elevado. Essa viagem nostálgica também foi percorrida por outros gigantes do setor, como a Ford com seu imortal Thunderbird. Depois de várias atualizações e mudanças de estilo, a montadora de Dearborn optou no ano passado por um desenho dos anos 50. Do outro lado do oceano Atlântico, os alemães da BMW seguiram um caminho semelhante. O esportivo Z7 nasceu à imagem e semelhança do modelo 507. Um ponto une os carros que foram desenhados com estilo antigo: o luxo. Os modelos podem ter um aspecto clássico por fora mas por dentro esbanjam tecnologia e itens de série dignos dos melhores automóveis top de linha. Ar-condicionado controlado por computador, estofamento em couro e sistemas de áudio são alguns deles. Afinal, nostalgia sim, mas com conforto.