Em qualquer país europeu, assim como nos Estados Unidos e nas maiores economias da Ásia, o deslocamento de pessoas entre cidades é o pilar de um bom planejamento urbano e até da distribuição de riqueza das grandes metrópoles. E isso costuma ser feito por trem, por várioas razões: mais transporte por trilhos significa menos carros nas ruas, menos congestionamentos, menos barulho e poluição do ar. Um jogo em que todos os lados ganham, e que o Brasil poderia desfrutrar há pelo menos um século. Um estudo recente da Confederação Nacional dos Transportes (CNT) apontou que, proporcionalmente, o Brasil tinha uma malha ferroviária maior duante a monarquia do que hoje. Tentando correr atrás do tempo perdido e buscando reativar planos adiados nas últimas décadas, o governo do Estado de São Paulo quer pisar no acelerador no projeto do Trem Intercidades (TIC), que liga o centro da capital paulista à cidade de Campinas, no interior, em um trajeto de uma hora. A previsão é que, já no terceiro trimestre, haja uma consulta pública para que a obra seja licitada junto com a Linha 7-Rubi.

Segundo o secretário dos transportes, Alexandre Baldy, a ideia é promover uma Parceria Público-Privada (PPP) que atraia investidores para operar a execução e gestão do empreendimento. “Queremos três tipos de viagem: um trem expresso, em 60 minutos; um trem intermetropolitano, que não deve parar em todas as estações; e um trem parador, agregando estações de Vinhedo, Valinhos e as que já existem na linha 7-Rubi da CPTM, que fará o trajeto em cerca de duas horas”, disse em coletiva no fim de janeiro.

O projeto ainda depende do sinal verde do governo na renovação antecipada do contrato da MRS, concessionária que opera uma malha ferroviária federal. A companhia, em contrapartida à exigência de uma série de investimentos, terá a prorrogação do contrato de concessão por mais três décadas. O investimento que deverá custar mais caro é a segregação das linhas destinadas a carga e a passageiros, que atualmente são compartilhadas sobre os mesmos trilhos. No total, o investimento é estimado em R$ 5 bilhões.

PARCERIA Governo quer mobilizar a iniciativa privada para atrair o investimento estimado em R$ 5 bilhões apenas no Trem Intercidades (TIC). (Crédito:Paulo Guereta)

Com a participação direta do governador de São Paulo, João Doria, a equipe econômica do estado avalia qual será a melhor configuração da nova concessão, especialmente na questão do reparte dos recursos que serão demandados da MRS e dos vencedores do edital. Como se trata de uma PPP, uma parte dos investimentos sairá dos cofres estaduais.

O Trem Intercidades deve pegar carona nos leilões das linhas 8-Diamante e 9-Esmeralda da Companhia Paulista de Trens Metropolitanos (CPTM), marcados para março. A concorrência, segundo o economista Marcos Besse, especialista em infraestutura e planejamento urbano da Fundação Getulio Vargas (FGV), será um termômetro para medir a disposição dos investidores em injetar recursos no projeto. “As grandes obras de infraestrutura ferroviária nos últimos anos atraíram muito o interesse no segmento de carga, mas ainda é incerto como será a visão para transporte intermunicipal”, disse.

Lucas Seixas

“Queremos três tipos de viagens: uma em 60 minutos, uma intermetropolitana e uma que terá várias paradas” Alexandre Baldy, cecretário dos transportes de SP.

Uma das concessões mais aguardadas dentro do plano de desenvolvimento elaborado pelo governo paulista é a extensão da Linha 2-Verde, que deverá chegar até a estação Penha, na Zona Leste da capital. Pelo plano, o trecho fará interligação com a Linha 3-Vermelha do Metrô. Em dezembro, o governo obteve autorização para financiamento externo, que deverá viabilizar as obras. Para Baldy, não será possível concluir o projeto até 2022, mas o plano é entregar ao menos 50% até o fim do ano que vem. O governo também trabalha para, antes do fim do mandato, iniciar a operação o monotrilho da Linha 17-Ouro do Metrô, entre o aeroporto de Congonhas e o estádio do Morumbi, que deveria ter ficado pronto antes da Copa do Mundo de 2014.

ABC De acordo com o Baldy, até abril de 2022 deve ser iniciada a operação controlada, em fase de teste. Mesmo com o estoque de obras travadas, o governo tem trabalhado em novas linhas do Metrô, como a 20-Rosa, que deverá ir da Lapa, na Zona Oeste da cidade, até Santo André, no ABC paulista. Segundo Baldy, uma proposta seria licitar, em bloco, a construção da nova linha juntamente com a Linha 2-Verde do Metrô, cuja operação já está consolidada. O projeto ainda é muito inicial, principalmente se pensarmos que o Brasil está com um atraso de pelo menos um século nesse quesito.