A União Europeia (UE) não está em condições de defender o continente e não deve fragilizar a OTAN com seu desejo de autonomia, afirmou o secretário-geral da Aliança, o norueguês Jens Stoltenberg, em entrevista com a AFP.

“Apoio os esforços da UE para seus gastos de defesa, dotar-se de novas capacidades militares e remediar a fragmentação de indústria europeia de defesa, porque tudo isso será bom para a segurança europeia e a segurança transatlântica”, declarou o funcionário em Bruges (oeste da Bélgica) na quinta-feira.

“Apoiamos todos esses esforços, enquanto complementarem a OTAN. Mas a UE não pode defender a Europa”, alertou.

Stoltenberg não parece estar convencido com as garantias dadas no final de março por parte dos europeus sobre sua necessidade de reforçar uma autonomia de ação e ao mesmo tempo ser um parceiro confiável para a OTAN e Estados Unidos.

Os membros da UE “fornecem apenas 20% dos gastos de defesa da OTAN”, destacou.

“Mas não é só uma questão de dinheiro. É também uma questão de geografia. Islândia e Noruega (que não são membros da UE) são portas de acesso ao Ártico. Turquia, no sul, tem fronteiras com Síria e Iraque. E ao oeste, Estados Unidos, Canadá e Reino Unido se comunicam através de ambos os lados do Atlântico”, explicou.

Stoltenberg nunca escondeu sua desconfiança com o desejo de autonomia por parte dos países membros da UE, porque isso ameaça a OTAN.

“Qualquer tentativa de enfraquecer as relações, dividir a Europa e a América do Norte, só enfraquecerá a OTAN, dividirá a Europa”, alertou.

“Não acredito que um país ou um continente possa lidar sozinho com os desafios de segurança que estamos enfrentando na atualidade”, destacou.

Em um discurso no Colégio da Europa, Stoltenberg também alertou os membros europeus contra a vontade da Rússia de alterar as fronteiras pela força e pediu para reforçar a cooperação entre a UE e a Aliança.

– “Novo capítulo” –

“Europa sozinha” ou “Estados Unidos sozinho” não são a solução contra as muitas ameaças que representa “o comportamento agressivo” da Rússia, o terrorismo, os ciberataques e o crescimento da potência da China.

“Devem ir juntos”, concluiu.

O responsável elogiou o projeto europeu sobre a mobilidade militar. “É o mais destacado da cooperação entre a OTAN e a UE. Isso facilitará um movimento mais rápido das tropas da OTAN e de tropas americanas pela Europa”, afirmou.

A Aliança quer também dar “apoio crescente aos esforços de combate ao terrorismo internacional na África”, anunciou.

O compromisso militar em Sahel “faz parte dos esforços da França para combater o terrorismo e se a OTAN não estiver diretamente envolvida, os outros aliados da OTAN, inclusive Estados Unidos, os apoiam”, destacou.

Stoltenberg não enxerga falta de compromisso militar dos Estados Unidos na Europa – argumento levantado pelos europeus para reforçar sua ação como bloco.

A eleição do democrata Joe Biden para a presidência dos Estados Unidos “será uma oportunidade para iniciar um novo capítulo na relação transatlântica, e é o que faremos na próxima cúpula da Aliança” que será organizada em uma data ainda não determinada por causa da pandemia, afirmou.