No atual contexto, a percepção dos mercados internacionais em relação ao Brasil é a pior possível. O Morgan Stanley, que acompanha de perto os humores dos investidores, aponta que o País precisa urgentemente reconquistar a confiança com medidas concretas. Do contrário, ainda perderá muito. O governo amplificou o medo quanto às reais intenções de avançar na privatização e na agenda do ajuste fiscal. Na última semana, foram sacados R$ 9,2 bilhões da B3 em capitais externos, marcando o fim definitivo da lua-de-mel com o Brasil. Entre analistas, a visão mais em voga sinaliza o risco de uma nação isolada frente ao mundo, devido a escolhas erradas e à negligência no campo da saúde. A própria equipe econômica já dá como perdida a possibilidade de retomada econômica neste primeiro trimestre do ano. As medidas não andaram como planejadas, o ritmo da pandemia avançou e o descrédito dos empresários subiu, segurando assim projetos e investimentos. Aponta o ministro Guedes que o “lockdown” não estava nos planos, devendo agravar ainda mais o quadro. Propostas de apoio à baixa renda e às empresas, como as adotadas em 2020, deverão vir em escala menor, o que não será suficiente para impulsionar a atividade. Alguns dos técnicos, mais pessimistas, dizem que, mesmo no segundo trimestre, podem surgir dificuldades. O ministro, pela primeira vez, falou pessoalmente em risco de venezuelização do Brasil em até um ano e meio, caso não ocorram as reformas e o respeito à responsabilidade fiscal. Curiosamente, é dele — do seu time e, principalmente, do chefe Jair Bolsonaro — a incumbência de levar adiante esses princípios. E, até agora, nada. Diante do risco de recessão, um grupo crescente de empresários começa a se articular para colocar de pé o projeto de lei aprovado pelo Senado para a compra de vacinas pelo setor privado. Nos bastidores, inúmeros industriais, comerciantes e mesmo banqueiros estão convencidos de que, no momento, a maior saída para economia virá pela via da vacinação em massa. Por isso tentam participar e auxiliar no processo. Na lógica cristalina deles, o aumento de casos e o caos do sistema terão reflexos diretos na recuperação do mercado. A incerteza da vacinação turva o cenário e retarda a retomada. Tudo que o setor produtivo não quer é um 2021 repetindo os resultados do ano passado. Por parte da equipe econômica, o grande temor é que a inflação escale perigosamente no curto prazo. Corre nos bastidores de Brasília uma previsão de que, em junho próximo, ela já deva atingir o pico de 6%. E pode não parar por aí. De uma coisa muitos estão certos: o coronavoucher, sendo pago sem contrapartidas fiscais, poderá empurrar a carestia a tetos ainda maiores. Por esse caminho, a desconfiança em relação ao Brasil ficará incontrolável. Economistas de diversas vertentes convergem para um mesmo diagnóstico: se o Brasil não começar, rapidamente, a aumentar esse volume de investimentos, terá pela frente mais uma década perdida. Em números redondos, o nível atual de investimentos é o pior em 53 anos — considerando na conta o dinheiro do setor público e privado, nacional e internacional. Já que o governo encontra-se insustentavelmente endividado e sem espaço no orçamento para gastar em novos projetos, a saída será convencer o capital global a retornar. Mora aí o problema. A disposição federal vai na direção contrária. O governo despreza alertas ambientais, desestimulando aportes, e tem tido uma atuação pífia no tabuleiro global. Para sair dessa encruzilhada será necessária uma mudança de postura.

Carlos José Marques, diretor editorial