Nem mesmo a sinalização presidente do Federal Reserve (Fed) de St. Louis, James Bullard, de que gostaria de ver uma alta de 100 pontos-base na taxa básica de juros americana até 1º de julho, foi suficiente para atrapalhar o desempenho da Bolsa brasileira nesta quinta-feira. Enquanto os índices de Nova York derretiam, o Ibovespa seguiu em inabalável trajetória de valorização, chegando a tocar máxima intraday. Encerrou o dia em alta de 0,81%, aos 113.367,77 pontos.

Na segunda etapa dos negócios, o bom desempenho do índice foi puxado sobretudo por papéis ligados a commodities, com Vale subindo 2,69% e Petrobras com valorização de quase 2%. Os investidores esperam bons resultados para as duas gigantes, que apresentam resultados no fim do mês. Ontem, a petroleira informou que bateu as metas de exploração para 2021, apesar de uma queda ante 2020. Hoje, a mineradora publica seu relatório de produção. As ações ligadas a metais sobem ainda na esteira da alta de 4,3% do minério de ferro no porto de Qingdao, na China. Já o petróleo teve dia de pouca força, com o Brent com viés negativo.

Ajuda também a recuperação do setor financeiro, que subia praticamente em bloco, após dia negativo ontem. O Bradesco, que puxou o desempenho para baixo de ontem após resultados que desapontaram o mercado, tinha hoje alta de quase 1,44% nas ações preferenciais.

O desempenho firme do Ibovespa ocorre a despeito da queda de mais de 1% dos principais índices americanos. Dow Jones recuou 1,47%, S&P500, 1,81% e Nasdaq, 2,10%. O gestor de portfólio da Kilima Asset, Luiz Adriano Martinez, lembra que o movimento não é isolado e que o descolamento tem ocorrido desde o início do ano. Tanto que, em 2022, o principal índice da Bolsa brasileira acumula alta de 8,15%, enquanto Dow Jones e S&P500 têm, respectivamente, queda de 3,02% e 5,50%.

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“Se fizer uma análise um pouco mais longa, de como estão os setores da bolsa nesse ano, são energia, materiais básicos e setor financeiro (que estão puxando o Ibovespa). É relativamente comum, quando começa esse ciclo de aperto monetário global, os papéis que são mais orientados para crescimento de lucro sofrerem mais e papéis de valor, que não dependem muito de crescimento de lucro para performar, se valorizarem”, aponta, destacando que a bolsa brasileira é particularmente concentrada nesse tipo de papel, com impacto forte de ações ligadas a materiais básicos.

O economista-chefe da Frente Corretora, Fabrizio Velloni, lembra que há uma expectativa pela demanda chinesa – o que afeta países produtores de commodities -, uma vez que a China, na contramão do resto do mundo, está disposta a estimular a economia fiscal e monetariamente para garantir uma estabilização do crescimento. “Você vê investidores indo não só em Brasil, mas em outros emergentes. Dow Jones chegou no ponto mais alto, o investidor realiza e vai pro mercado tentando aumentar rentabilidade no curto prazo”, pontua.

Ele lembra, contudo, que o Brasil ainda tem muitos riscos, o que muitas vezes traz um recurso não perene para o País. “Ainda temos risco elevado, fiscal, estamos em ano de eleição. Ao mesmo tempo que vem rápido, esse capital é de saída rápida. Se investidor achar que chegou num patamar que pode realizar, vai sair. Esse ano vai ser marcado por esse movimento de volatilidade para cima e para baixo”, completa. Para ele, a bolsa deve continuar nessa trajetória ao menos até romper uma barreira entre os 114 mil e 116 mil, que traria realização de lucros.

Na máxima do dia, o Ibovespa testou hoje chegar mais próximo dos 114 mil pontos. Com alta de 1,20%, o índice tocou os 113.812,47 pontos no pico intraday. Na mínima, por outro lado, pela manhã, caiu 0,27%, aos 112.163,10 pontos. O índice futuro, por sua vez, tinha alta de 0,91% às 18h17, aos 113.470 pontos.

O único setor que parece acompanhar o comportamento da bolsa americana é o de tecnologia. Enquanto Nasdaq registra queda firme lá fora, as ações do setor são destaque entre as principais baixas no Ibovespa, puxados pela expectativa cada vez mais dura para os juros globais. Destaque para Locaweb(-3,93%), Méliuz (-4,05%) e Banco Inter (-4,133%).

Na ponta positiva, Via e Magazine Luiza fecharam em altas de 7,43% e 5,15%, respectivamente, em dia positivo para varejistas.